Os dedos tamborilaram a lateral da taça que ostentava na destra, as unhas promovendo um som fino. Ficou pensativa por um segundo, mas sabia que as ofensas ao Sr. D. poderiam ser levadas ao extremo. "Exatamente, eu não consigo saber sobre a sua mente. Mesmo que você seja transparente, de acordo com você, eu não tenho como ter certeza. Não acha isso torturante?" Era isso que constantemente parecia perseguir a filha de Afrodite, a ideia de que não conseguia ler alguém. É claro que sentia-se excessivamente em Crepúsculo, maltratando a pobre da garota porque não conseguia ler sua mente (ou seus sentimentos, nesse caso, mas tinha bastante similaridade), mas continuava incomodando-se com aquilo. Bem, pelo menos não tratava ela como se estivesse fedendo. Se fosse confessar, a outra sempre tinha um aroma envolvendo dela que era único e bom, mas seria estranho comentar aquilo, mesmo que o álcool começasse a fazer efeito. "Beba. Em algum momento, vai parar de sentir que é forte e vai começar a achar gostoso." Piscou para a mulher, uma vez que já estava acostumada com o gosto de álcool. Era o tipo de pessoa que, todas as sextas-feiras, delicia-se com um vinho no final da tarde para comemorar a finalização de uma semana. Ultimamente, a rotina andava um pouco bagunçada com os últimos acontecimentos, mas definitivamente ainda apreciava esses momentos sozinha. "Esse é um mojito. Rum, suco de limão, água com gás, gelo, açúcar e folhas de hortelã. Achei que gostaria de algo diferente." A sobrancelha arqueou-se suavemente, como se insinuasse que, no fundo, a escolha tinha sido de Kitty. Aproximou-se da outra o suficiente para que pudesse estender a mão e bater as taças. "Cheers, minha querida Kitty Cat." O canto dos lábios se curvou para cima em um sorriso.
"Não entendo nada sobre vinhos. Seria vergonhoso ganhar um castigo ou maldição por conta disso." Ainda que não achasse justo. Como iria saber sobre vinhos suaves e secos? Parecia um tipo de conhecimento muito específico. E os conhecimentos específicos de Kitty se resumiam a assuntos que não eram agradáveis para a maioria, considerados mórbidos demais. De qualquer maneira, decidiu que não queria o vinho suave mais. Talvez o provasse em outra oportunidade. O comentário de Anastasia tirou a atenção de Kitty sobre vinhos, que balançou a cabeça de leve. "Você não tem como saber sobre a minha mente, mas acho que não é tão difícil de adivinhar." As pessoas sempre falavam sobre como a filha de Hades era fácil de ler, com os sentimentos sempre claros em suas expressões e na forma de agir. Não conseguia não ser autêntica e honesta em suas maneiras, portanto era fácil que todos ao redor soubessem como estava se sentindo. Kitty olhou com atenção quando ela pediu mojito, com mais atenção ainda quando fora colocado a sua frente. Verde, quase reluzente, parecendo delicioso. Kitty pegou o copo com certa desconfiança, imediatamente sentindo o cheiro de álcool na bebida. A filha de Hades deu um gole mínimo, o gosto forte de rum e limão explodindo em sua boca e queimando a garganta, deixando um rastro de fogo por onde descia. Kitty deixou o copo de lado e torceu o nariz, fechando os olhos enquanto as sobrancelhas escuras se uniam. "Pelos deuses, Anastasia, isso é bem... forte." Um eufemismo, porque ainda sentia os lábios arderem. "Qual o nome? Acho que nunca experimentei desse. Caipirinha?" Era a sua sugestão, visto o limão. Caipirinha era uma das poucas que conhecia pelo nome, visto um amigo brasileiro que tinha no acampamento.
Uma mensagem de Íris para você: "O que você sabe sobre as criaturas e os perigos que vivem no submundo? Como você se prepararia para enfrentá-los?"
Pensou por um momento, tentando se lembrar de todos os ensinamentos que teve quando era mais nova. É claro que, recentemente, também tiveram o pequeno acidente (se é que poderia chamar assim) envolvendo o Cão Infernal, o que fazia com que os diversos monstros viessem em sua mente. "O submundo é um lugar cheio de sombras, onde criaturas nascidas do medo e do desespero reinam. As ameaças podem ser inúmeras, desde cães infernais até espíritos vingativos, cada um mais perigoso que o outro. Esses seres são movidos pelo medo." Para ela, o cuidado em enfrentar cada criatura era onde estava a sabedoria que tanto pedia para Atena quando sabia que algo aconteceria. Mais do que habilidade em combate, era necessário também ter conhecimento do que poderia esperar por ela no Submundo. "Para combatê-los corretamente, conhecer bem o inimigo e antecipar seus movimentos é essencial. Toda criatura viva segue um padrão de ataque, até mesmo nós." Mesmo que tentasse ser imprevisível em um campo de batalha, todos possuíam padrões. Os movimentos poderiam ser espaçados e bem pensados, mas, eventualmente, acabaria imitando algo que tinha visto ou treinado. O mesmo servia para as criaturas infernais. "E, claro, enfrentaria cada perigo com coragem e confiança. O importante é sempre ter um plano em mente do que fazer, não apenas sair atacando sem motivo. Cada passo conta, cada movimento conta."
BIRDS of a feather .
trigger warning : morte && dor física .
Sentiu como se tivesse um peso que subia na cabeça e ia descendo para as pernas. Precisou piscar algumas vezes para identificar aquele lugar, principalmente porque estava em um passado tão obscuro que armazenou em uma parte da mente que não poderia ser facilmente acessada. Ali era onde os pesadelos começaram, quando tudo que poderia fazer era sentir as lágrimas escorrerem pelo rosto toda vez que sequer pensava no antes do Acampamento Meio-Sangue. Ela gostaria de ter tido mais tempo, mas estava novamente na mansão da família, embaixo da mesa que tinha visto o pai morrer. A respiração ficou pesada, o ar tornando-se difícil de entrar, mesmo que ofegasse. Tentava não pensar naquele momento, na falta que o pai fazia, já que, antes de ser reclamada e finalmente ser curada dos traumas, tudo que sentia era uma saudades que doía o peito. O luto destruiu Anastasia, a criança que tinha um pouco de chance de ser doce. Quando o genitor morreu, não havia mais nada para ela naquele mundo e, por muito tempo, acreditava que seria melhor desistir do que continuar vivendo.
Não era mais uma criança indefesa, no entanto. Tinha experimentado o mundo e, acima de tudo, lutado para que ganhasse e achasse o seu espaço. Os olhos não enchiam-se mais de lágrimas como antigamente e não havia mais um constante pesar nos ombros que impediam de prosseguir. Estava saindo debaixo daquele lugar quando sentiu o cheiro de sangue, repulsivo como lembrava. As mãos começaram a tremer inconscientemente e fechou os olhos com força, voltando-se ao lugar onde estava. Conseguia sentir a perna ficando molhada com o líquido vermelho, mas se recusava a encarar aquilo. Sabia a cena que encontraria: o corpo do pai, os olhos gentis e, ao mesmo tempo, aterrorizados com o fim que estava tendo, mas com um sorriso ao perceber que a filha não sairia do esconderijo e, assim, ficaria bem. Camada por camada, de indiferença para raiva para deboche, blindava-se da capacidade de expressar o que sentia e desenvolver vínculos afetivos com qualquer um. Era uma armadura que impedia que amasse e permitisse ser amada. Mesmo que os pesadelos jamais tivessem indo embora, encontrou forças na própria dor para que conseguissem seguir em frente minimamente. O que a assustava de vez em quando era perceber como esquecia aos poucos o tom exato do azul dos olhos do pai, assim como onde estavam as covinhas que tanto invejou e queria ter herdado. Não queria esquecê-lo e, por mais que tivesse uma foto ou outra, as lentes jamais capturavam corretamente o que ansiava saber. Ela não queria que a vida com o pai se tornasse apenas um fragmento.
— Nastya? Estamos aqui. — Escutou a voz de Maxime, o que fez com que abrisse os olhos novamente. A mesa tinha desaparecido, mesmo que continuassem na mansão. Não havia mais sangue, o que era estranho. Talvez tivesse imaginado aquilo. Como que tinha parado ali, de qualquer forma?
Um sorriso apareceu nos lábios dela, naturalmente feliz em encontrá-lo novamente, já que tinha sido uma das principais pessoas a fazer com que passasse pela sua fase nebulosa. Os olhos escaparam para as pessoas atrás dele, observando Bellami e Christopher, e ficou um pouco confusa do porquê todos estavam em sua antiga casa. Um carinho imediato invadiu o coração dela, já que aquela era sua família. Depois de tudo que tinha acontecido no passado, tinha achado novamente pessoas que poderia chamar daquela forma e que nutria um amor incondicional. Faria qualquer coisa por eles, independente do que fosse e sem nenhuma hesitação. Aceitou a mão estendida do conselheiro, pronta para ir embora do lugar que trazia memórias mistas em sentimentos. Queria chorar para ele e contar de como os pesadelos tinham sido desencadeados. Estava pronta para falar para todos irem embora juntos, a boca abriu, mas o som que foi escutado não era de sua voz.
Escutou o som que perseguia os pensamentos bloqueados, um grito que fazia com que acordasse quase todas as noites com um solavanco. Ele pareceu preencher cada canto da sala de estar e sabia que não tinha por onde escaparem.
Não era mais fraca, não tinha mais medo. Puxou a espada sem nenhuma hesitação. Pensava no pai e que, se tivesse a mesma habilidade que tinha atualmente, nada de ruim teria acontecido. Ela era boa. Ela era a melhor. Ainda sim, havia uma pequena parte de si que fazia com que o coração batesse aceleradamente e sentisse o interior chocalhar com uma ansiedade iminente. Segurou a espada mais forte, apontando em direção que o grito vinha.
— Podem ficar tranquilos. Sou incrível, acabo com ela em questão de segundos. Se quiser sentarem e observarem o show. — A voz saiu de forma bem-humorada e confiante, repleta da arrogância que, quem convivia com Anastasia, sabia que poderia facilmente enganá-la em um momento importante.
Tinha desenvolvido aquela personalidade depois de anos acreditando que não merecia nada do que tinha, já que havia perdido o que importava. Havia permitido que perdesse. Precisava não sentir como se fosse um eterno peso e, quando não teve mais aquele sentimento, uma nova filha de Afrodite foi colocada em seu lugar. Confiante, cheia de si, arrogante. Várias formas de encarar o mesmo objeto de estudo.
A harpia, no entanto, desprezava a peça de ouro imperial que Anastasia apontava para ela. Parecia simplesmente ignorar a presença da semideusa, os olhos presos nos irmãos. Tentou chamar a atenção dela com um grito, mas não foi o suficiente. Cansada daquilo, o corpo preparou-se para um ataque, então... Nada. Os irmãos pareciam despreocupados, já que a Bragança tinha prometido que protegeria eles. Por que deveriam se preparar para uma batalha no qual ninguém havia os chamado? Tentou mais uma vez, mais outra, porém as pernas pareciam imóveis, como se tivessem coladas no chão. Queria correr em direção a ela e mostrar o quanto era capaz de proteger as pessoas que amava, mas perdia as esperanças aos poucos. Quando a harpia finalmente levantou voo, os olhos claros arregalaram-se no mais profundo desespero e, antes que pudesse pedir para que se preparassem ou corressem, o monstro avançou neles impiedosamente.
Não duraram segundos e tudo que pode fazer foi observar. Os braços pararam de se mover, assim como as pernas. Tudo parecia rígido, mesmo que os olhos se movimentassem de um lado para outro, sendo obrigada a assistir aquilo. Assim que tudo acabou, a harpia pareceu decidir que já estava satisfeita e voou para longe. Nos rostos dos irmãos, a expressão acusatória e traída permanecia, já que tinha pensado mais em si do que neles. Como tinha permitido que não ajudassem? Como poderia não tê-los protegido? Novamente, estava sozinha, sem família. Caiu de joelhos, as lágrimas invadindo os olhos como não acontecia fazia muito tempo. A família que tanto amava, que tanto tinha construído, não restava mais ninguém.
Estavam todos mortos e era culpa de Anastasia.
Ela era fraca.
Fraca.
Fraca.
semideuses citados : @maximeloi && @thxbellamour && @christiebae
@silencehq
"Você está reclamando de coisas feitas por Afrodite para uma filha de Afrodite? Isso é bem corajoso da sua parte." A sobrancelha de Anastasia arqueou, uma vez que tentava analisar a situação. Não estava com vontade de brigar, principalmente quando estava tentando se divertir. Aceitou, no entanto, um pequeno salgado, pensando que não deveria se empanturrar. "Talvez tenham um pouco de poder que impeça você de ficar sujo. Ela não estragaria uma roupa bonita assim." Os olhos dela desviaram para a roupa dele, pensando se havia algo assim nas vestimentas de ambos. Não tinha a mesma preocupação com o outro, já que, talvez fosse por ser filha da deusa da beleza, mas raramente era desastrada com alimentos e trejeitos. Mesmo quando a boca ficava levemente suja, parecia misteriosamente um guardanapo que permitia que se limpasse rapidamente. Mordeu levemente o pedaço, que cobriu com um guardanapo para impedir que sujasse as mãos, principalmente quando pretendia ficar mais algumas horas ali. "Deixei meu nome também, espero ganhar." Os dentes encontraram o próprio lábio inferior, mostrando um pouco de nervosismo na situação. Não que tivesse grandes expectativas, mas elas existiam, de qualquer forma. "Temos que ser positivos. Podemos ganhar, certo? Mas, sinceramente, acho que o Joe e a Yas vão ganhar por conta da banda que está fazendo bastante sucesso hoje. Depois daquele showzinho entre eles, acho que vão virar quase como um highschool sweethearts." Um sorriso apareceu nos lábios dela, preparando-se para barganhar. "Bem, se eu votar em você e você votar em mim, teremos pelo menos um voto. O que me diz?"
baile (quiosque de delicias amorosas) with @ncstya
ㅤ。ㅤㅤㅤ"Você sabe que se tivessem sido feitas por mim, estariam infinitamente melhores, não é?" Archie cutucou a filha de Afrodite com o cotovelo, mas ainda assim levou mais alguns docinhos até a boca. O filho de Deméter não poderia tecer comentários negativos, mas nunca perdia a oportunidade para inflar o próprio ego e induzir os outros a fazer o mesmo. "Mas não é de todo ruim, sabe. Estão bons, um pouco borrachudos, mas bons. O chocolate merecia um pouco mais de… amor." Ele riu, empurrando um pequeno pratinho com salgados em direção de Anastasia. "Você deveria provar esses. Se não foi a minha barriga chorando, então foi a sua. Passei o dia correndo de um lado para o outro que acabei esquecendo de fazer o mínimo do mínimo por mim mesmo. Além de quê, estou sendo muito ousado em comer por agora. Se algo cair nessa roupa, estarei arruinado." Levando uma mão para debaixo do queixo, Archie mastigava com cuidado para evitar qualquer migalha. A festa estava apenas começando. Manchas e qualquer infortúnio contra a impecável veste ele deixaria para mais tarde. "Você considerou pôr o seu nome para a votação da realeza do baile? Não faz muito tempo, mas deixei meu nome na urna. Sei que não tenho qualquer chance, mas nunca é demais tentar, hm."
"Claro que não, Yas. A não ser que carregar o maior sorriso que eu já vi ele dar conte como um surto." Um sorriso apareceu naturalmente nos lábios de Anastasia. Mesmo que tivesse sido um pouco incisiva até demais durante o baile de Afrodite, parecia que, finalmente, eles tinham tomado a decisão correta em oficializar. Fazia um tempo desde que tinha conversado com Joe a respeito de Yas, ainda mais com tudo acontecendo, mas os dois juntos parecia certo. Não imaginava alguém para o melhor amigo que não fosse a filha de Deimos. "Eu realmente estou feliz por vocês dois. Já estava achando que eu teria fios brancos antes de vocês decidirem finalmente ficar juntos." A brincadeira saiu com uma pequena risada, uma vez que eles ficavam fugindo da questão toda vez que Anastasia trazia ela à tona. Era uma grande fã do amor, então era natural que ansiasse para que os amigos decidissem, finalmente, dar uma chance para o que tinham.
Seu cabelo era intocável. Nunca mexeria em cores e até em comprimento. Apenas reparação de pontas e hidratações, coisas mais leves que não mexeriam no natural que tanto adorava e havia herdado de Leyla Solak. Se parecer com sua mãe era sua maior lembrança dela. Por isso orientou muito bem as filhas de Circe do que poderiam ou não fazer ali e naquele momento via seus cabelos ficando prontos num volume lindo que fazia o ruivo brilhar como há meses não o fazia. A voz de Anastasia a trouxe de volta de seus devaneios, olhando para a mulher num riso curto. ❝ ― Por que? Parece tão irreal assim? ❞ — Perguntou baixinho para a amiga, sem desviar o olhar do próprio rosto naquele espelho e se sentindo bonita como na noite do baile. ❝ ― É, é verdade... Ele surtou com você, não foi? ❞ — Questionou o óbvio porque conhecia muito bem o rapaz para saber como ele iria se comportar longe dela e contar para os amigos a mais nova novidade.
As palavras dela fizeram com que, por um momento, absorvesse aquela informação. Talvez a utilizasse futuramente, mesmo que soubesse do envolvimento dele com Kitty e Mary, mas era uma grande fã do caos. A mente foi, por um momento, para as possibilidades, mas logo focou no que estavam fazendo ali. Os sentimentos das pessoas tinham efeitos adversos em Anastasia, que poderia, facilmente, compartilhar deles, se fosse o seu desejo. Assim que a mente conectou, no entanto, percebeu que não seria uma boa coisa compartilhar daquilo, principalmente porque estava cansada de sentir medo, mesmo que o causasse facilmente em Aidan. A expressão permanecia de tédio, mas a mente funcionava para transmitir as informações através da ponte que se formava entre as mentes. Era interessante ver como o outro batalhava contra ela, tentando lidar com os sentimentos. Mesmo que não controlasse fortemente, havia uma resistência do poder dele, que ameaçava sair a qualquer momento. Sabia que o odiava, porém torcia para que fosse capaz de batalhar contra a ânsia de fazer o poder escapar. Não queria mais passar por aquela situação novamente e, mesmo que fosse motivada por motivos egoístas na maioria das situações, esperava que outras pessoas não fossem influenciadas involuntariamente pelo filho de Ares. O medo dele fazia com que arrepios percorressem seu corpo, mas não retirou o laço que tinha formado anteriormente, por mais que ansiasse virar as costas e ir embora. Pensava muito no que poderia fazer, na vulnerabilidade da situação, e se não estava passando por um limite realizando aquilo, principalmente tratando-se de uma instrutora. Sabia que haviam formas mais sutis e não tão extremas de testá-lo, mas estavam desesperados, principalmente algo maior que eles estava acontecendo. Anastasia precisava que todos estivessem em sua melhor condição.
A surpresa dela foi explícita na expressão, ao mesmo tempo que havia um leve orgulho do que tinha feito (não que fosse confessar em voz alta, é claro). "Certo." Umedeceu os lábios antes de permitir que a mais intensa das sensações o invadisse: a raiva. Filhos de Ares, no geral, tinham dificuldade com essa, uma vez que eram conhecidos pelo temperamento explosivo. Por isso, afastou-se ainda mais alguns passos, sentindo aquela rede de informações ser enviada pelo laço mental até a parte do cérebro que processava os sentimentos. O gosto amargo e as bochechas coradas rapidamente invadiram Anastasia, que tentava forçar-se a não quebrar a conexão. Mesmo que o controle dos sentimentos fosse algo fácil para ela, que já tinha consciência plena dos poderes, ainda sim haviam aquelas que demandavam um esforço maior dela. A expressão de tédio foi alterada para uma concentração, evidenciada pelas sobrancelhas que se juntavam. "Me fale se tiver qualquer sinal de descontrole." O aviso veio com certa preocupação na voz.
Deu levemente de ombros com a possibilidade. "Se pedir com educação, talvez." O riso nervoso surgiu em seus lábios. Estava à mercê de qualquer efeito que viesse a emanar da filha de Afrodite e, quebrar a dureza do ambiente daquela forma, não pareceu uma boa ideia. Isso ficou evidente após as palavras dela. Soltou um longo suspiro ao sentir uma estranha confusão emocional cruzando seu peito, como se fosse afetado por um turbilhão de conclusões em um micro segundo. Tomado pelo desejo de concentração, fechou os olhos e relaxou os ombros. Precisava distanciar o emocional de seu corpo, era essa a instrução que havia recebido de Charlie, Quíron e de outros colegas que o acompanhavam naquela reabilitação. Estranhamente, passou a sentir um estranho nó se formando em sua garganta, apertando cada vez mais, esfriando o seu corpo. Quando o tremor atingiu suas pernas, a estrutura de seu corpo balançava levemente com a força da emoção que lhe acometia. Pavor. Tudo que Aidan sentia era mais intenso, sempre foi assim, desde a infância, mas controlado por Nastya parecia ainda mais impactado. Os olhos abriram e se arregalaram. O ambiente parecia assustador, a sensação de que algo iria acontecer, de que algo estava à espreita, de que a escuridão ao canto da sala teria um inimigo guardado. Olhava ao redor de si enquanto o tremor tornava a escalar por seu corpo. As mãos chacoalhavam e produziam o barulho de suas pulseiras se chocando. A filha de Afrodite parecia amedrontadora mesmo com o fino semblante de tranquilidade.
Conseguiu identificar dentro de si o calor que subia em seu peito, o mesmo calor que causava a febre que antecedia a liberação da cólera. Passou a domar aquela sensação através da respiração, harmonizando-a pouco a pouco, levando seus pensamentos para uma zona de conforto dentro de si, repetindo mantras para apaziguar suas emoções. Aos poucos conseguiu conduzir seus pensamentos para a estabilidade dentro do medo, a queimação no peito se esfriando com uma baixa do efeito da intervenção mágica em seu corpo. Finalmente, dentro do medo, encontrou a segurança. "Estou conseguindo. Próxima emoção! Sem pausar!" Exclamou vinculando os olhos aos da semideusa.
KATNISS EVERDEEN & PEETA MELLARK The Hunger Games: Catching Fire (2013)
"Vocês, filhos de Zeus, são todos iguais mesmo." As palavras saíram como um resmungo, já que, quanto mais passava tempo com Ian, mais percebia as semelhanças de personalidade com Raynar. Compartilhavam o jeito mal-humorado, como se o mundo tivesse um grande problema com eles, o que fazia com que ficasse mais facilmente irritados. "Eu não estou te desmotivando! Só confio na sua capacidade de fazer ainda melhor. Pense dessa forma." Enquanto isso, Anastasia fazia o próprio cartão, para ninguém em específico. Gostava de utilizar as canetas com glitter, que a filha de Afrodite continha em um nível quase assustador. Sempre apreciou presentar os amigos ou namorados com gestos voltados a presentes e palavras de afirmação, o que era bem previsível para alguém como ela. "E eu não te obriguei, seu mentiroso. Você está de algemas aqui? Estou te amarrando de alguma forma?" Era verdade que a semideusa sabia ser bem convincente quando queria, o que incluía pesquisar os olhos brilhantes em direção ao outro e pedir por favor com a voz mais doce já vista. Em momentos como aquele, agradecia as características que a mãe lhe ofereceu, já que não era sequer necessário utilizar o poder de mudar as emoções alheias. "Duvido muito disso. Tenho certeza que a pessoa entenderia que você fez algo para ela, ao invés de comprar um pronto. Você subestima um gesto feito de coração, Ian, mas, acima de tudo, subestima minha capacidade em ser uma professora muito boa." Uma risada escapou dela, cheia de convencimento. Era instrutora de espada, no final das contas, então sabia lidar com alunos birrentos que acreditavam que o mundo estava conspirando contra eles. Deu de ombros com a ofensa alheia, não fazendo questão de contradizer o que falava a respeito dela, já que sabia que a personalidade de Anastasia poderia ser difícil quando queria. Para a semideusa, esse era um dos seus charmes. "Eu não preciso ter uma personalidade incrível para conseguir o que eu quero. Cinco segundos dando em cima de qualquer um, independente da sexualidade, e a pessoa já está na minha mão." A honestidade dela transbordava das palavras. Mesmo que soubesse que fosse uma visão superficial, era a verdade: a grande maioria de todos eram superficiais e não cabia ela negar o óbvio. "As pessoas fazem qualquer coisa pela atenção de uma pessoa bonita." Cruzou os braços contra o peito, olhando para ele em expectativa, esperando que percebesse que era necessário fazer mais um cartão. "Então, quer tentar de novo ou vai ficar fazendo birra?"
Ian ergueu as mãos para o ar, largando o cartão recém terminado no chão, sem saber o que tinha feito de errado dessa vez. "O que foi agora?" O questionamento era genuíno, visto que ao seu ver, o cartão feito por ele seguia todos os passos que ela havia dito, salvo alguns toque pessoais acrescentados pelo filho de Zeus. "É claro que eu nunca te escuto, eu não costumo fazer essas coisas, estranho seria eu ter ouvido." Ele esticou os braços de modo a apontar para o cartão. "Isso é o melhor que uma pessoa que nunca fez nada de artesanato na vida consegue, e você tá sendo uma professora péssima desmotivando o aluno que você OBRIGOU" a palavra foi pronunciada com uma ênfase maior do que o restante da fala "a estar aqui." Terminou sua defesa cruzando os braços em frente ao corpo enquanto observava as modificações feitas por ela, tentado esconder o olhar entediado que a própria parecia impulsiona-lo a dar. "A minha letra é péssima, se eu escrevesse alguma coisa assim em um cartão como esse, quem recebesse ia ter a impressão de estar sendo ofendido." Disse com extrema sinceridade. Sua caligrafia era realmente péssima mas seus desenhos não, e essa era uma informação que ele seguiria guardando a sete chaves; com todo aquele papel e cartolina coloridas, glitter e canetas de cores diferentes, ela era poderosa demais. Ergueu as sobrancelhas enquanto a ouvia, mas logo seu rosto assumiu uma expressão confusa. "Porra de namoradinho, Anastácia. Já te falei que a letra que representa minha sexualidade não está naquela sigla." Estreitou os olhos na direção dela e os revirou em seguida. Aproveitou que uma cartolina enrolada estava por perto e a pegou, batendo com o papela na cabeça da mulher. "Quem que tem personalidade chata aqui? Minha personalidade é incrível, você que é chata."
"Você sabe o que quero dizer." Mesmo que ainda nutrissem uma relação amigável, nada se assemelhava ao que tiveram quando eram namorados. Não sabia exatamente o porquê continuavam conversando, principalmente depois do término que tinha sido em decorrência de um achismo de Anastasia que, desde o começo, estava controlando os sentimentos de Raynar por ela. Talvez por nunca se permitir ser verdadeiramente feliz, mas tinha colocado na cabeça, novamente, que os relacionamentos eram uma consequência de como se sentia e não uma forma deliberada que os outros escolhiam se sentir a respeito dela. "Não precisa pedir desculpas, ambos estávamos alcoolizados. Eu não estava no meu melhor estado." Naquela noite, tinha focado em se divertir como se o amanhã não existisse, assim como as responsabilidades. Tinha passado tanto tempo sendo instrutora de espada que, no mínimo sinal de liberdade, tinha se entregado. Uma escolha feita de forma tola, já que sabia que algo poderia acontecer. Não tinha hesitado em proteger os campistas, mas a visão e as decisões foram feitas de forma nada inteligente, o que também impactou em ser intoxicada pelo poder alheio, piorando ainda mais a situação que tinha sido colocado diante deles. Com a movimentação alheia, percebeu, finalmente, a situação que o outro se encontrava. O olhar passeou sem inibição pela pele exposta alheia, lembrando como costumava conhecer cada centímetro. Uma memória de desejo passou em sua cabeça, mas talvez sempre estivesse ali presente, mesmo que adormecida. Era melhor ignorar, de qualquer forma, já que poderia se tornar mais uma dor de cabeça do que algo que poderia lidar. Com os pensamentos efervecendo, pensava que talvez não estivesse sequer em decisões de falar a respeito de qualquer coisa que não envolvesse o que poderia fazer a respeito de ser destruída pelas consequências da sua tolice. O toque fez com que se sentisse um pouco acalentada, pensando que, mesmo com as complicações, Raynar era alguém que a conhecia quase por completo. Sabia o fardo que era para Anastasia carregar ferimentos e, acima de tudo, cicatrizes. O corpo, tão tenso, relaxou levemente e, enfim, pode soltar o ar que sequer sabia que estava prendendo.
A mão dela encontrou a dele, entrelaçando suavemente os dedos e colocando entre eles. Mesmo que não se importasse com o toque, Anastasia não estava pronta para alguém ver o ferimento tão de perto, assim como tocá-lo com tanta intimidade. Independente do que o semideus falasse, continuava achando que estava monstruosa. Como poderia uma filha de Afrodite carregar uma cicatriz? "Você sabe que sempre gostei das suas." A voz saiu mais baixa, já que estava presa dentro dos próprios pensamentos. Será que a mãe falaria algo sobre aquilo? Talvez fosse algum tipo de maldição implícita ao ser incapaz de proteger Flynn, mesmo que sequer soubesse o que estivesse acontecendo. Também tinha destruído o vestido, que acabou com várias perfurações e manchas de sangue. Olhar para a roupa, depois de tudo que tinha acontecido, era mais uma memória trágica do que uma lembrança de algo que gostaria de manter. Os olhos, que antes estavam focados em ponto nenhum, viraram para o filho de Zeus, questionando-se a respeito da verdade nas palavras alheias. Dentre as possibilidades, poderia ser a que estava sendo apenas educado, uma vez que a filha de Afrodite tinha apenas invadido o quarto. De qualquer forma, precisava falar a respeito daquilo e alguém que tinha a conhecia profundamente seria capaz de entender as perturbações que a dilaceravam. Não hesitou novamente ao deitar ao lado dele, segurando a mão alheia. Era mais fácil ficar encarando os dedos e brincando com eles do que encarar o ex-namorado. "E se eu nunca mais for atraente de novo? Talvez nem eu mesma vá me reconhecer mais. Estou evitando me olhar no espelho, porque sinto que, assim que eu o fizer, a verdade vai ser jogada na minha cara." Mordeu o lábio inferior, batalhando contra as lágrimas que poderiam aparecer. "Quando comecei a ser instrutora, sabia que isso poderia acontecer, mas sempre me curei rápido. Agora... Tem algo diferente."
A hesitação aprofundou as expressões severas de seu rosto, que de fechadas ficavam um pouco mais acentuadas. O arrependimento do pedido não vindo quando tinha a maior das certezas de que estava certo. Era o maldito bom senso, ou outra coisa sem nome, que o permitia transitar em sociedade sem ser tão absurdamente alheio de tudo e todos. Raynar torceu os lábios e trincou o maxilar, os músculos proeminentes com o esforço imposto. Aquilo sim era sua culpa. Pesando a mão demais em provocações, navegando sem cuidado na linha cinzenta entre brincadeira e crueldade. “ 🗲 ━━ ◤ Complicadas. ◢ Repetiu devagar. Cada sílaba soando estranha e terminando com aquele tom suave de pergunta. O fim sim tinha sido complicado, mas Hornsby usava do pragmatismo para continuarem seguindo em frente. Pegar a rota menos complicada, de pensar demais sobre coisas que não deveriam ser colocadas sob a lente de um microscópio. “ 🗲 ━━ ◤ Podemos não ser mais namorados, Anastasia, mas eu me importo com você. E... Me desculpe... Pelo baile. Pelo o... O que eu falei. ◢ Em específico aquele momento que a perturbara tanto que anunciou a mágoa. Raynar puxou mais um pouco das cobertas ao redor da cintura, já prevendo que perderia alguns centímetros com o compartilhar da cama com Anastasia. Seus olhos a acompanharam sem piscar, preferindo estreitar ao máximo sem perder um segundo daquela decisão - que parecia ser muito difícil. E ele não estragaria sendo engraçadinho. A proximidade o fez atento, preocupado. Prescrutando cada ponto exposto da semideusa, cada imperfeição provocada pelo ataque. Imperfeição aos olhos dela, claro, porque ele carregava às próprias como marca de vida. De uma vida emprestada para quem não deveria durar muito. “ 🗲 ━━ ◤ Isso significa que sobreviveu, então, sim, eu gosto do que vejo. ◢ A mão pousou no lado da cabeça, os dedos entrando nos cabelos para afastá-los da bochecha machucada. Expondo, colocando em vista. “ 🗲 ━━ ◤ Se alguém considera isso uma falha, Anastasia... Essa pessoa carrega ainda mais, e piores. ◢ Raynar nutria uma aversão a relacionamentos, principalmente os duradouros. Rejeitava os mais efusivos, tolerava os mais calados. Era um raio de sol ambulante e muito simpático, para não dizer o contrário, e... Mesmo assim... Aprendia. No fundo, aprendia uma coisa ou outra sobre empatia. “ 🗲 ━━ ◤ Você não gosta do que vê. E vai querer me calar quando contar sobre as minhas, em todo o meu corpo, menos na cara porque sou alto demais. ◢ Tentou colocar um humor ali, uma gracinha, mas a seriedade ainda pesava em suas palavras. Na expressão que suavizava com preocupação, pura e simples. “ 🗲 ━━ ◤ Me conte, firecracker. Me conte o que vem guardando aí dentro. Por favor. ◢
SCARS to your beautiful .
PLOT DROP : o que aconteceu com Anastasia de Bragança .
trigger warning. menção à ansiedade e leve mutilação.
Sabia que tinha sido ingênua em pensar que suas ações de bravura repentinas, impulsionadas pelo álcool, não teriam consequências. Foram vários dias na enfermaria, implorando para que a mãe permitisse que não tivesse nada que a fizesse lembrar para sempre aquele dia. Mesmo que não fosse próxima de Flynn, havia algo em si que lembrava das lâminas das pelúcias enfiando em suas pernas, em seus braços e, acima de tudo, em seu rosto. Os dedos tocaram o curativo como se soubesse o que estava prestes a acontecer.
PART ONE . THE BRAVE BEAUTIFUL GIRL .
Contexto : Pós interação com Kitty ( você confere mais aqui ) .
Não virou novamente para verificar se a filha de Hades tinha ido embora. Esperava firmemente que tivesse sido esperta o suficiente para correr para longe, já que as pelúcias avançavam cruelmente na direção de Anastasia. Sabia que aquilo aconteceria, mas precisava ganhar tempo para os outros campistas. A espada empunhada, a Sharp Beauty, repousava naturalmente e confortavelmente em sua mão, fazendo com que tomasse a postura defensiva rapidamente. Os primeiros golpes foram dados contra um dos primeiros ursos que tentavam chegar perto e, ao cortar os braços e a cabeça, achou que seria o suficiente. Como estava errada. Quanto mais tentava cortar, mais parecia irritá-los a ponto que chegassem por todos os lados, encurralando ela. A cena era quase cômica se as lâminas não fossem afiadas o suficiente para que brilhassem sob a luz do lugar.
Sentiu o cheiro de fogo, mas estava tão focada em conseguir tempo que sequer teve tempo de olhar ao redor. Mesmo que fossem pequenas, era impossível contê-las para que não atacassem o corpo. O vestido era rasgado facilmente pelas lâminas e Anastasia fazia o seu melhor para desviar, reposicionando com uma postura de ataque. Ainda sim, sentia as lâminas rasparem superficialmente contra a pele das pernas, algo que era um incômodo, mas os reflexos faziam com que desviassem, colocando-se no caminho dos mais fracos e permitindo para que corressem para onde Dionísio tinha indicado. Estava prestes a fazer o mesmo quando sentiu um cheiro diferente, algo que não estava ali antes. Não sabia o que era e viu apenas uma névoa vermelha invadir os olhos, depois as narinas e, enfim, a mente.
O coração pareceu despencar do peito e, então, bater de forma mais acelerada novamente. A mão fechou-se mais forte contra a espada, conforme as lágrimas invadiam a visão. Precisava lutar mais, precisava proteger aquele lugar independente do custo. Olhou rapidamente para o lado, percebendo que aquela fumaça estranha parecia emanar de Aidan, mas não importava. Nada daquilo importava, nem a própria vida. As memórias dela chorando embaixo da mesa da sala, escutando o pai bravamente lutar contra um monstro que sabia que não tinha chance, invadiam a cabeça dela, fazendo com que quisesse permanecer mais e tomar a decisão que, para ela, era a mais corajosa do mundo. Desejava se sacrificar para que todos tivessem tempo de escapar, mesmo que isso significasse que não saísse do pavilhão. Combatia firmemente com as pelúcias, mesmo que estivessem ainda mais agressivas. A cada lâmina que tocava a pele macia de Anastasia, mais um soluço saía dela. Fraca, era fraca, assim como aquela noite que tinha perdido o pai.
Não soube quantos minutos tinha passado ali, mas sentia o corpo fraco. No entanto, recusava-se a dar por vencida, conforme batalhava com as pelúcias e fazendo o máximo para que fossem completamente eliminadas. O corpo dela estava ensanguentado do próprio sangue, mas recusava-se a parar, o coração tomado pela fúria e pela mágoa das próprias ações. Não podia permitir que tivessem perdas aquela noite. Mesmo que a pessoa não fosse alguém que se importasse, com certeza o semideus teria amigos e família e amores; aquelas pessoas se importariam e chorariam pela sua morte. Anastasia sabia que o luto era muito difícil de lidar.
Quando tudo pareceu acabar e escutou a voz de Quíron, anunciando a morte de Flynn, Anastasia caiu de joelhos, as pernas incapazes de sustentá-la. Independente do quanto tinha se esforçado, alguém tinha morrido e era toda sua culpa. Era fraca. Precisava melhorar, devia melhorar. A mente estava enevoada pela falta de sangue do corpo, assim como pela gravidade dos ferimentos no corpo inteiro. Não sabia exatamente quando tinha sido atingida tão gravemente, mas estava tão focada nos próprios pensamentos que sequer teve tempo para pensar em si mesma. Conseguia ver cortes pelos braços, mas sentia o rosto arder em chamas, a dor infiltrando-se em cada músculo facial. Os olhos varreram o ambiente, como se tivesse tentando definir se realmente estava tudo bem. Com um suspiro, se rendeu à escuridão.
Os próximos minutos (ou horas, não se sabe ao certo) foram marcadas por ela recuperando a consciência por alguns segundos. Acordou no chão do pavilhão, desmaio. Estava sendo carregadas por braços que não sabia distinguir de quem era, mas eram fortes o suficiente para colocá-la em algum lugar. "Eu vou morrer." A voz saiu fraca quando decidiu isso para a pessoa dona dos braços que a carregavam, já que talvez fosse a última pessoa que encontrasse. Antes que pudesse absorver mais qualquer coisa, a escuridão a engoliu novamente. Piscou mais uma vez, encarando olhos azuis e realmente quis dizer algo inteligente, talvez algumas últimas palavras inspiradoras, mas tudo que conseguia pensar era que queria dormir. "Se eu morrer, espero que eu não sinta." E, novamente, nada.
Quando acordou na enfermaria, a cabeça estava confusa e o corpo inteiro encontrava-se cheio de bálsamos com faixas. Estava completamente dolorida e confusa com o que tinha acontecido. Sequer se lembrava. Estava tão cansada que decidiu voltar a dormir.
PART TWO . FALLING INTO YOUR OCEAN EYES .
Depois de semanas com as bandagens e curativos, Anastasia tinha criado uma expectativa a respeito dos machucados. Os mais leves tinham fechado perfeitamente nas primeiras horas, principalmente em decorrência da cura mais acelerada. Jamais tinha estado em um processo mais longo de cura, ainda mais quando quase todas as missões que fora aconteceram quando tinha um nível mais profundo de conhecimento a respeito do poder e da espada. O coração batia mais acelerado contra o peito quando recebeu o veredicto que, quando estivesse preparada, poderia remover os curativos do rosto. Aqueles eram os que mais estava ansiosa, para ser sincera. Independente do que tivesse acontecido, esperava que não fosse tão terrível quanto imaginasse. A mãe também tentaria ajudá-la de alguma forma com aquilo, certo? Sabia que Afrodite não aceitaria uma filha que fosse feia sob os olhos dos outros.
Ao chegar no chalé, fechou a porta atrás de si e sentou em frente a penteadeira branca que era decorada por enfeites cor-de-rosa e creme. Precisou de alguns minutos para finalmente tocar no rosto, temendo o que fosse encontrar atrás do curativo. Mais um tempo foi necessário para que a coragem viesse até ela, já que tocava na borda e desistia. Contou até três e, com os olhos fechados, sentiu a cola desvencilhar da pele. Um suspiro saiu dela assim que sentiu o ar tocar a pele que estava escondida durante aquele tempo, aliviando e sensibilizando. Foram dias repletos de agonia e incertezas, algo que não estava acostumada. Fazia tempo que não sentia-se tão mal a respeito de si mesma e do que era capaz. Desde que foi proclamada, Anastasia estava acostumada a ser naturalmente bonita, com o cabelo sempre alinhado, a pele impecável e uma maquiagem inata. Não esforçava-se excessivamente, já que ser filha de Afrodite era o suficiente, mesmo que adorasse passar horas planejando o guarda-roupa da semana e pintando as unhas para que combinassem com as cores que utilizaria.
Quando os olhos finalmente abriram, encarou-se no espelho como se fosse a primeira vez que se visse. O rosto não parecia mais o mesmo, principalmente graças a cicatriz gigante que havia em sua bochecha que descia até o maxilar. As mãos cerraram-se no colo, tentando absorver a imagem que a encarava. Era estranho, muito diferente. Pela primeira vez em anos, a filha de Afrodite se sentiu horrorosa. Mesmo que os olhos azuis fossem os mesmos, a boca cheia continuasse, a cicatriz parecia tomar toda a atenção. Tudo que tinha de positivo no rosto era anulado pela grotesca linha que parecia deformar a pele. O enjoo invadiu antes que pudesse perceber e a mente foi invadida pelos pensamentos negativos que pareciam salpicar em sua mente. Sentia-se como se pudesse morrer naquele momento. O mundo girava ao seu redor, a visão parecendo fazer com que a cicatriz parecesse ainda maior. Como poderia livrar-se daquilo imediatamente? E se olhassem para ela e nunca mais sentissem nenhum desejo? E se zombassem toda que vez aparecesse, porque, além de lutar excessivamente com pelúcias, tinha ganhado aquela lembrança terrível? As pessoas definitivamente nunca mais gostariam dela, já que tudo que importava era como se parecia. Costumava ser perfeita, mas tudo que restava agora era a deformação.
Não percebeu quando começou a chorar, já que a respiração acelerada e inconstante parecia levá-la a um ponto de ebulição. Antes que pudesse perceber o que estava acontecendo, a destra foi para a pulseira e puxou Sharp Beauty. Talvez nem merecesse mais a espada, já que era bonita demais para um monstro como ela. A lâmina atravessou o frágil espelho, fazendo com que as partes caíssem na madeira. O mundo era um borrão dentre as emoções de perda, culpa, mágoa, tristeza e raiva que a invadiam. As lágrimas eram incontroláveis e, por mais que tentasse respirar para se acalmar, assim como tinham ensinado, não parecia o suficiente. Se não era bonita, o que era? O que deveria fazer?
personagens mencionados no pov : @zeusraynar e @aidankeef