FLASHBACK . A semideusa se sentiu tocada pelo comentário sobre a guerra tornar a situação especial entre eles. Era uma pessoa apegada a romances clichês e grandes demonstrações de amor, o que fazia com que entendesse que, às vezes, as circunstâncias desafiavam nossas expectativas, criando momentos que, por mais que tentássemos evitar, pareciam inevitáveis e especiais. Isso fazia com que frequentemente se questionasse se um dia poderia ser capaz de amar novamente, mesmo quando ele era tão óbvio para ela. Mesmo que quisesse viver algo intenso novamente, parecia tão improvável, porque sabia que sempre cairia na mesma dúvida se saberia diferenciar os limites do poder quando estava tão absorta em um relacionamento. "Pode ter sido a primeira vista, mas foi algo construído também." Mesmo que acreditasse em tudo o que a maioria considerava besteira, como amor a primeira vez, sabia que havia mais do que amor que sustentava um relacionamento amoroso. Ela mesma já tinha vivido isso mais de uma vez. "Claro, mas acho que você entende isso também." Um pequeno sorriso apareceu nos lábios dela, repleto de compreensão. Se alguém sabia como poderes poderiam ser mais complexos, essa pessoa era Yasemin. Ficou em silêncio por alguns momentos, absorvendo, pensando. Sabia que era estranho uma filha de Afrodite não pensar sobre amor, mas Anastasia era uma exceção. Não sabia se queria estar amando novamente. Vivia mais absorta nos próprios livros, suspirando pela irrealidade do que desejando algo para ela mesma. Talvez Yas estivesse certa, no entanto. Mesmo com as complexidades e as nuances que envolviam manipular emoções, poderia ter alguém que a fizesse se sentir aceita e acolhida. Não desejava ficar obcecada por isso, porém talvez o processo de fazer as pazes consigo mesma fosse um pouco mais lento e tortuoso do que ansiava. "Pode ser, mas não gostaria de fazer isso novamente. Talvez o que eu queira e precise seja algo tranquilo e fácil." Foi sincera, a voz levemente cansada. Não desejava passar por tantas dificuldades novamente, temendo sobre a verdade por trás dos sentimentos de alguém. Soltou um suspiro profundo, olhando para as unhas, novamente perdida nos próprios pensamentos. "Mas talvez a esperança de um amor que não seja uma constante montanha-russa seja algo pela qual eu possa acreditar e lutar." Uma risada saiu dela, sem saber ao certo o que falar.
❪ ⠀ ⠀ flashback !!! ⠀ ⠀ ❫. Realmente, talvez a guerra tornasse toda aquela situação ainda mais especial para Joseph e ela. Sempre foi fã de cinema e de clássicos, mas os romances eram clichê demais, contudo, vendo daquela perspectiva de onde estavam agora, era quase como se acabassem se encaixando nessa situação. O que tornava tudo mais engraçado porque sempre procurou fugir de situações como aquelas. No entanto, seu foco agora era saber um pouco mais sobre Anastasia. Ela sempre foi uma amiga, não tão próxima, mas compartilhavam algumas boas memorias juntas. Talvez firmar uma amizade mais próxima fosse o melhor caminho a ser seguido ali. Por isso a resposta digna de uma esquiva lhe deixou um pouco frustrada de inicio, mas não poderia culpa-la. Ela fez o mesmo por muito tempo. ❝ ― Esse é um amor que nunca tive antes, mas estou adorando. Foi a primeira vista. ❞ — Comentou com o mesmo humor já que foram raras as ocasiões que saiu do acampamento e nenhuma delas havia sido para visitar um spa. A sua vida sempre foi de guerreira. A resposta seguinte da filha de Afrodite a fez prender o fôlego por um momento, pensando em como deveria ser um poder delicado e realmente perigoso. Ela era um mundaréu de inseguranças e certamente conseguia entender o que a outra estava tentando dizer. ❝ ― Deve ser tão... Estranho. Não sei se saberia lidar com algo do tipo. Acha que algumas pessoas te evitam por isso? ❞ — A pergunta saiu de maneira automática porque ela teve experiências assim por conseguir entrar na mente das pessoas e isso era privativo demais, o que deixavam os demais ao redor bastante inseguros. ❝ ― Ainda assim... Não acho que deveria desistir ou parar de tentar por isso. Quer dizer... Joseph sabe de todos os meus problemas e do quanto sou complicada, e aqui estou eu. Sendo um caos, mas alguém ainda gosta desse caos. ❞ — Comentou com certo humor, mesmo que o assunto gerasse certa seriedade. ❝ ― Uma vez me disseram que meu próprio pai era um exemplo de amor. Ele é o deus do medo, mas nasceu do amor... Literalmente. Então acho que as duas coisas andam atreladas. ❞
A risada dele fez com que os olhos de Anastasia brilhassem, cheios de curiosidade e alegria genuína. A filha de Afrodite sentiu como se pequenos raios de sol atravessassem o coração dela. A felicidade dele era contagiante, e ela não pôde deixar de se sentir animada pela notícia. Com um olhar cúmplice e um sorriso largo nos lábios, sentiu o peito esquentar com o sentimento que a atravessava. Talvez por ser filha de Afrodite, mas notícias como aquelas pareciam fazer com que o dia dela ficasse melhor. Quase conseguia escutar os passarinhos cantando mais perto. "Que maravilhoso ouvir isso!" Anastasia exclamou com sinceridade, sua voz melodiosa transmitindo o entusiasmo genuíno que ela sentia. Não hesitou em aproximar-se ainda mais do amigo, os braços envolvendo o corpo dele automaticamente em um abraço apertado e animado. "É ótimo ver você tão feliz. Já estava me perguntando qual era o problema de vocês dois." Não deixou de brincar, uma vez que já tinha tocado naquele assunto mais de uma vez. A semideusa pausou por um instante, olhando para o horizonte antes de encarar novamente o amigo. Os pensamentos voaram por um segundo, pensando se havia algo incrível assim para contar para ele. Mesmo que quisesse falar sobre o que tinha acontecido, não era o momento para estragar a felicidade alheia. Por conta disso, manteve o sorriso animado nos lábios. "Como para mim, tenho novidades sim, mas nada tão formal quanto um namoro." Riu levemente, com um brilho travesso nos olhos. "Mas posso te contar que a coisa mais emocionante que aconteceu recentemente foi uma nova coleção de vestidos que comprei." Amava moda, então novas compras realmente faziam o coração dela bater mais forte. "Agora você vai sentar aqui e me falar como você pediu ela em namoro."
Quando não estava enfiado embaixo d’água por aí, um dos poucos lugares que sempre ia para comer alguma coisa enquanto observava a bela vista do lugar era o terraço. Estava escorado no batente, com um lanche natural já pela metade em mãos, quando ouviu a voz familiar que rapidamente chamou sua atenção. — Ei, Nasty! — Acenou para a filha de Afrodite que, por sinal, estava bem mais radiante e bonita naquela manhã. Não que ela já não fosse, mas sabia que o local e toda a aura que o envolvia contribuíam para tirar das feições de cada um o cansado da dura realidade que enfrentavam todos os dias. A pergunta o deixou confuso por um momento, tanto que mordeu mais uma vez o sanduiche enquanto olhava o movimento lá embaixo, próximo a praia. Quando a ficha finalmente caiu, não conteve o riso divertido e até mesmo bobo. — Caramba, não tem mesmo como esconder algo de você. — O tom era animado e até mesmo brincalhão. Virou-se de lado, com o braço ainda apoiado no mármore apenas para encarar melhor a irmã de consideração. — Bom, Yasemin e eu estamos oficialmente namorando. — Dessa vez não conteve o orgulho depositado nas palavras, muito menos o sorriso que teimava em formar no rosto. — Mas e você? Tem alguma coisa para me contar ou ainda na mesma de sempre?
Nana for DAZED Korea
Sentir os braços de Santiago ao seu redor fazia com que se sentisse estranhamente em casa. Mesmo que estivesse passando por um momento difícil, ele sempre estava lá para reconfortar Anastasia. Fechou os olhos, retribuindo em silêncio, escutando a voz dele reverberar dentro de si, acalmando os pensamentos mais terríveis que estava tendo. Sentia o calor invadir o peito e irradiar para o resto do corpo, sentindo-se um pouco melhor. Permitiu descansar a cabeça contra o peito alheio, inspirando o aroma dele que fazia com que se sentisse em casa. Ao mesmo tempo que queria chorar e espernear sobre todos, havia a parte também que ansiava por permanecer em silêncio, refletindo sobre o porquê de estar constantemente sendo colocada em uma posição que não a favorecia de forma alguma. Os deuses estavam furiosos uns com os outros e, como consequência, os filhos sofriam. Respirou fundo com as palavras presas na garganta. Estava cansada de lutar uma guerra que não tinha a ver com ela, mas que era obrigada a travar. Estava cansada daquele constante movimento. Queria falar para o semideus como queria simplesmente passar um dia sem temer pelo próximo. A revelação de Maxime ainda doía como uma facada contra o peito, pensando que, de todas as pessoas, o irmão era a última pessoa que acreditava que faria algo assim.
Quando as mãos foram tomadas e encarou os olhos claros de Santiago, soube que, talvez, não quisesse falar sobre aquilo. Era óbvio pelos olhares e pela postura o quanto lutava contra os pensamentos que invadiam sua cabeça sobre tantas coisas. Era rápido demais a ponto que não tinha tempo para absorver corretamente. Quando estava prestes a superar algo, aparecia outro. E mais outro. Permitiu que as palavras não ditas permanecessem entre os dois e esperava que Santiago compreendesse cada uma delas. "Estou cansada. Odeio me sentir imponente." Sequer tinha vontade de soltar ainda mais lágrimas, mesmo que uma ou outra ainda escapasse dos olhos da filha de Afrodite. Havia tanto pesar em seu peito, mas sentia que, quanto mais pensava nos acontecimentos recentes, mais raiva incendiava o peito. Continuava acreditando que, independente do que Eloi tinha feito, provavelmente tinha uma justificativa. Quando falava isso, sentia os olhares julgadores de quem insultava o irmão, falando coisas terríveis a respeito dele. Talvez tivesse sido influenciado ou manipulado para aquilo. Poderia ser até mesmo alguém tomando a sua forma. As possibilidades pipocavam em sua mente, atropelando qualquer chance de remissão. Fechou os olhos, inspirando o ar profundamente como se fosse trazer alguma clareza. Quando os abriu novamente, percebeu que era melhor concentrar-se em qualquer coisa. A dificuldade do outro de dormir veio em sua mente e, mesmo que não pudesse ser ajudada, talvez tivesse algo que pudesse fazer por Santiago. "Me conte sobre eles. Os pesadelos." Brincava com os dedos dele, afundados no obscurecimento da noite. Ali, ninguém poderiam achá-los e ninguém saberia sobre o que falariam. Sabia que ele sempre foi atormentado pelos sonhos, que jamais interpretavam os piores medos dele. Estava sempre ao seu lado para mostrá-lo que, independente do que acontecesse, sempre teriam um ao outro.
Estão sendo tão ruins assim ultimamente?
Não sabia por onde começar a responder aquela pergunta. Seus pesadelos não eram particularmente violentos ou assustadores mas, de uma maneira quase primal, sentia mais medo das consequências de suas próprios atos do que de ter seu sangue derramado. Toda vez que pregava os olhos estava mais uma vez diante da deusa da discórdia, incapaz de tomar uma decisão diferente da que lhe custava tudo o que tinha como valioso – seus amigos. Sua família. O que Anastasia pensaria se a dissesse que seu maior pesadelo envolvia sua morte, e que o peso de a ter causado em um plano que não o real o parecia esmagar? “You're in them, you know.” Admitiu, seu tom quase um suspiro, como se envergonhado o colocar em voz alta. Sabia que não era justo o dizer, não quando ela estava enfrentando o peso da descoberta de uma traição imperdoável, e sua intenção não era a fazer sentir culpada: buscou por seus olhos para lhe dizer de maneira silenciosa que, em meio às perdas e decepções, ela o tinha como âncora e lar.
A escutou atentamente e, como se feito de vidro, sentiu no peito um estilhaçar. Era coração mais do que era cabeça, e não sabia exatamente o que dizer em vias de consolo. Não conseguia nem imaginar como ela se sentia a respeito de Maxime, ou o tipo de material que a descoberta oferecia para seus tormentos noturno. Sequer sabia se o podia responsabilizar, ou se ainda havia alguém por trás da cortina conduzindo a peça que ela se via forçada a estrelar. Por mais que parte de si tinha medo de fazer perguntas que a sensibilizassem, a queria ouvir na esperança de que o desabafo trouxesse alívio e, como se movido por instinto, cruzou o espaço que os separava para a envolver em seus braços. A permitiu descansar a cabeça em seu peito de maneira a disfarçar a lágrima que havia deixado escapar, a materialização da regra dourada que dividiam: partilhavam da dor sem precisar falar.
“Você não precisa enfrentar toda essa merda sozinha.” A lembrou em um sussurro que era metade alento e metade repreensão. Não faria questionamentos, mas a daria o espaço para que continuasse a expressar o que a açoitava se assim desejasse. “Pode voltar a ser forte amanhã. Hoje tem permissão para desabar.” A ofereceu porque a conhecia, se afastando o suficiente para a poder encarar. Por um momento, desejou ter os poderes que ela tinha, na intenção de a apaziguar. Se os tomasse para si, talvez a ajudasse a se desapegar da ilusão do controle, e talvez servisse para remediar sua sensação de impotência quando os inimigos que a atacavam eram intangíveis, fruto de sua psique e seus traumas, e a realidade que a aguardava com o nascer do sol pouco fazia para colaborar. Em silêncio, tomou as mãos de Nastya na suas, comunicando com o toque tudo o que deixava suspenso em palavras. Real ou não real, enfrentariam juntos o que quer que lhes viesse atormentar.
E na manhã seguinte, aquela noite seria arquivada em um canto remoto de suas mentes, onde nenhum dos dois planejava revisitar.
FLASHBACK . "Com certeza, Yas. É a coisa certa. Não fique pensando nisso." Joseph era como um irmão para Anastasia, então era de se esperar que, inicialmente, tenha demonstrado certa resistência naquela enrolação dos dois. Como tudo na vida, no entanto, aos poucos o relacionamento dos dois foi ganhando um grande espaço em seu coração e começou a perceber como havia muito carinho entre os dois nos pequenos gestos. Como uma boa intrometida, uma vez ou outra olhava os sentimentos de ambos e pareciam genuínos o suficiente para que não duvidasse sequer um momento que desse certo. Anastasia, mesmo sendo uma romântica incorrigível por conta da mãe que tinha, acreditava que um bom amor era construído a partir de confiança e vontade de ambas as partes. Na sua percepção, aquele parecia o caso deles. "Não pense nisso!" Quase saiu em forma de repreensão, mesmo que não fosse sua intenção. "Pense que é bom viver todos os dias com alguém que te ama e te deseja o melhor. Tempo é apenas uma percepção. Pessoas diferentes têm percepções diferentes. Ao mesmo tempo que dois meses pode parecer um tempo gigantesco para mim, para outros dois meses é nada." Deu de ombros, já que, para ela, amores não eram para serem vividos como se tivessem data para finalizar. Não era assim que funcionava, mesmo quando eram semideuses. Deuses, quase sentia saudades de se apaixonar de forma avassaladora. "É isso que importa. No mundo que estamos, sendo feliz você já tem mais do que a maioria." Uma risada escapou dela, já que era uma verdade.
Já imaginava que fosse ouvir alguma coisa a respeito de Joseph e sua felicidade afinal conseguia ver isso nas expressões dele sem precisar de um poder para sentir emoções. Não que ela estivesse diferente, mas sempre foi muito contida, fria e regrada a respeito de emoções. Ela precisava ser assim para manter seu poder sob controle e também porque possuía mais desafetos do que afetos durante sua longa jornada de vida. ❝ ― Só... Aconteceu. Ainda não sei se fiz a coisa certa, mas a vida é muito curta para se pensar demais, não é? ❞ — Perguntou para a garota buscando por alguma segurança de que estava tudo bem. Estavam enfrentando momentos difíceis no acampamento e parecia que se tornaria ainda pior, então era comum que pensasse que a qualquer momento acabasse morta. Com Flynn foi assim. ❝ ― Então só vou tentar aproveitar enquanto ainda temos tempo afinal semideuses não vivem tanto assim. ❞ — Não queria pesar o clima, mas a frase saiu de maneira inevitável. ❝ ― Desculpa. Péssimo momento, mas... Enfim. Tô feliz e bastante, e isso me basta por agora. ❞
FLASHBACK . A expressão de desagrado foi óbvia em sua expressão, não fazendo nenhum esforço para disfarçar. Mesmo que não fosse confessar em voz alta, Raynar sabia quando ela provavelmente estava mentindo, então não fazia questão nenhuma de fingir ou sentir alguma coisa diferente. "Se alguém tirar uma foto minha assim, aí sim teremos um afogamento." Os olhos dela desviaram do rosto alheio, olhando em volta como se procurasse. Apertou os lábios, levemente nervosa, uma vez que não estava mais em sua roupa mais atraente possível. Mesmo que fosse só um biquini, Anastasia gostava de estar bonita, mesmo que soubesse o quão fútil era aquilo. Se fazia com que se sentisse bem, então fazia sentido gastar tempo com as roupas que utilizava no dia-a-dia. Um sorriso natural apareceu nos lábios dela quando viu a comida ao redor deles. Afundou o rosto e depois o corpo, esperando que aquilo fosse o suficiente para que conseguisse observar os peixes, que não demoraram a ir ao redor deles. Havia tantas cores, aparecendo como uma aquarela perto deles. Fazia tempo que não observava algo tão belo assim, gravando a imagem na mente para que pudesse descrevê-la mais tarde para o pai. Voltou para a superfície assim que o oxigênio acabou, tirando o snorkel por um segundo. Os olhos voltaram-se para o semideus. "Será que algum dia vamos ter algum tempo de paz assim novamente?" O corpo, naqueles dias, parecia ter sido tomado por uma leveza inerte, que espalhava em cada uma de suas células. Parecia constantemente flutuando entre as nuvens, o humor sendo apaziguado pelo clima que semelhava a tropicalidade.
O bom da falta de questionamentos é que ele não precisa tirar o sorriso de vitória do rosto salpicado de queimaduras. Mesmo com todo o protetor solar do mundo, a ausência de sol e o céu coberto de nuvens do acampamento, tinham sensibilizado a pele do filho de Zeus. O bronze dos treinamentos dando espaço para a skin mais clara, dos tempos que morava entre as montanhas e com neve até os joelhos. “ 🗲 ━━ ◤ Não, claro que não. ◢ Provocou com os cantos da boca exageradamente para baixo, a cabeça negando com veemência. “ 🗲 ━━ ◤ Um afogamento aqui está mais para humilhação. Acho que vi alguém com uma câmera... ◢ Hornsby disse aquilo só para irritá-la, não achou que fosse realmente assustar. Usando o apoio da escada, ele saiu de trás e ergueu o braço, a mão espalmadas nas costas do colete salva-vida. “ 🗲 ━━ ◤ Tenha cuidado, Santos. Deveria ter sugerido que pulasse logo. Uma entrada rápida e limpa. ◢ Segurando a vontade de carregá-la pelo colete e colocar no meio daqueles corais, Raynar esperou que entrasse completamente dentro d'água. “ 🗲 ━━ ◤ Vou nos levar o mais distante dos outros, porque essa movimentação toda vai assustar a maioria dos peixes. ◢ Com Anastasia a tiracolo, o filho de Zeus caminhou submerso. Os olhos azuis focados na movimentação da água, na corrente que passava pelas pernas. Quando achou um lugar ideal, destampou a garrafinha com comida de peixe e espalhou ao redor dos dois. “ 🗲 ━━ ◤ Vejo você lá embaixo, firecracker. ◢
"Se ele não te conhecer de verdade, o amor nunca será verdadeiro." Para Anastasia, um amor verdadeiro é aquele que permitia que não houvesse segredos entre eles. Sempre tinha sido honesta em todos os namoros que teve e, para ser sincera, talvez fosse isso que a assustasse tanto. Como o poder dela permitia que lesse emoções, tudo parecia verdadeiro até demais, muito sensível. Com o medo constante de todos ao seu redor terem o mesmo destino que o pai tivera, era difícil se entregar para alguma tão sincera e real. Amar era uma atividade complicada, o que expressava em quão hipócrita era para falar para Yas não ter medo. "Vai dar tudo certo." Alcançou a mão da amiga e deu um leve aperto, um sorriso aparecendo nos lábios quase automaticamente. Entendia que tudo poderia dar errado, mas era bom ser positiva. Quanto mais incentivasse a outra, mais propensa seria em fazer o Joseph feliz, o que era o suficiente para a Anastasia.
"Eu pego um pouco para nós." Levantou-se do seu lugar, indo até a mesa e pegando um pequeno potinho separado. Sentou-se novamente logo depois de voltar à mesa, um pequeno sorriso nos lábios. Depois de muito tempo, parecia que tudo estava bem novamente. "Ela é muito boa, realmente, mas pegue mais batatas." Comeu mais um pouco, finalmente afundando as batatas no molho.
Entendia Anastasia e o que ela queria dizer. Sim, todos os semideuses tinham um grande problema, ou pelo menos grande parte deles tinha algo a ser resolvido visto que monstros sempre iriam persegui-los. O problema com Yasemin era que ela gostava daquela vida. Gostava de caos, anarquia e principalmente do pânico. E dada suas experiencias no acampamento, se nem mesmo os semideuses gostavam dos filhos de deuses com aspetos mais sombrios, que espaço realmente tinha para ela naquele lugar? Sempre se sentiu reprimida de alguma forma, especialmente pelo uso de seus poderes. ❝ ― Talvez. Será que ele realmente iria querer mesmo me conhecendo de verdade? ❞ — A resposta que ela esperava ouvir era que sim porque Yasemin era leal aos seus, mas entendia que talvez algumas coisas fossem demais para alguns. ❝ ― Honestamente? Eu espero que sim porque gosto muito dele. ❞ — Confessou, olhando para a filha de Afrodite quase como implorando para que ela acalmasse o coração temeroso de algo ruim acontecer.
Acabou suspirando aliviada quando ela trocou de assunto porque não deseja ir mais a fundo naquilo, não era o momento. ❝ ― Sério? ❞ — Ela perguntou conforme roubava uma do prato alheio e comia em seguida. ❝ ― Eles tem alguns molhos na mesa de delicias, deve ter algo lá... Mas ficaria grata já com um ketchup. ❞ — Respondeu logo que terminou de mastigar, pegando outra batata, saboreando da mesma. ❝ ― Sua mãe quis caprichar realmente em tudo hoje. ❞
Durou apenas um segundo, mas Anastasia sentiu uma diferença de comportamento em Kitty que não estava esperando. A outra, que estava tão hesitante em beber sequer uma gota mais, tinha o virado, o que com certeza surpreendeu a filha de Afrodite, que olhou com curiosidade para ela, tentando adivinhar o que tinha acontecido. Tomada pela vontade de compreender melhor a situação, acompanhou a visão dela anteriormente, pensando que talvez tivesse visto algo chocante. Ao ver Aidan (que, se não estava enganada, viu entrar com Kitty no baile), as peças começaram a ser encaixadas, mesmo que não entendesse qual era o apelo em relação a ele. Duas mulheres bonitas querendo atenção de alguém assim era algo digno de choque para ela, já que a personalidade dele era muito duvidosa. "Você está assim por conta dele?" O tom de indignação era algo que não conseguia evitar, mesmo que tentasse evitar. As palavras saíram antes mesmo que pudesse controlá-las, sabendo que poderia irritar facilmente a filha de Hades. Não que estivesse julgando completamente as escolhas alheias, mas Aidan tinha uma reputação nada boa, então talvez fosse uma tolice acabar gostando logo dele. Sabia que aqueles assuntos não poderiam ser controlados, mas talvez fosse melhor apresentar melhores opções para a outra, mesmo que as palavras de Nastya fossem ser repletas de acidez. Talvez, bem lá no fundo, se importasse com ela.
"E você está certa. Mentiras nunca valem a pena, sempre são um poço sem fundo que acaba levando para mais mentiras." Esperava que aquilo fosse o suficiente para que Kitty desistisse daquele homem, que com certeza não valia a pena. Os olhos analisavam cuidadosamente a outra, decidindo se deveria ou não respondê-la que sim, já que parecia estar passando por um dilema interno. Mesmo que Anastasia desejasse desbravar o mundo intenso que representava a filha de Hades, não sabia se era adequado fazê-lo quando estava embebedando-se para afundar em uma alienação dos problemas. Mordeu o lábio inferior por um segundo, pensando o que deveria responder. Não era babá de qualquer pessoa, no entanto. "Acho que sim. Você merece ser mal comportada e imprudente." Perguntou-se o quanto seria necessária a sua aprovação, já que a outra já tinha pedido outro drink. Seria uma noite bem interessante, de fato, mas ainda sim um pequeno sorriso de satisfação era visível em Anastasia. Talvez finalmente obtivesse o que desejasse e conseguisse viajar pelas sombras da mente alheia facilmente se elas estivessem distraídas com o álcool presente na outra. Era um teste a ser realizado. "Quem me dera ter tanto autoconhecimento, facilitaria muito minha vida, mas não consigo controlar o que sinto." Seria confuso, no entanto, porque uma vez que mudasse os próprios sentimentos, eles não existiriam mais. Para onde iriam, por exemplo, o afeto e a felicidade? "Mas sim, consigo controlar os outros. Não consigo, por exemplo, mudar os seus pensamentos, mas a maneira como você se sente." Esperava que a outra não pedisse para que usasse algo nela, já que, devido ao álcool, não sabia o que poderia acontecer exatamente. Finalizou o próprio drink e pediu outro, só que um pouco mais forte. Quanto mais bêbada estivesse, mais fácil seria ignorar as sombras da filha de Hades tentando ela a conhecer mais. "Venha, vamos para um lugar mais silencioso. Talvez ajude no seu... Estômago." Não que se importasse com os sentimentos de Kitty (pelo menos, não que confessasse), mas seria complicado conversar com alguém que ficaria pensando no coração sendo quebrado toda vez que o olhar escapasse do dela. A mão dela segurou a da semideusa, guiando-a para um pouco longe do baile, permitindo que ambas respirassem um pouco mais facilmente e a música estivesse longe. "Então, você tem alguma pergunta para conhecer algum segredo meu?" Tentava distrair a outra das coisas que estavam acontecendo.
A menção dos esmaltes fez Kitty olhar para as próprias unhas. Geralmente não estavam feitas ou então pintadas de alguma cor como amarela ou verde. Para aquela noite, estavam apenas com uma base clara que Kitty havia encontrado no fundo de sua gaveta, bem aparadas de forma quadrada. Se a pergunta de Anastasia fosse que tipo de esmalte estava usando, estaria perdida. Kitty não saberia dizer. Por sorte, ela pareceu perguntar algo mais fácil, o que a levou a abrir um sorriso. Nunca achou que poderia ser tão fácil estar na presença dela e deu um pouco de crédito ao álcool que as envolvia, talvez até um pouco a Afrodite e sua aura apaziguadora. Estava feliz que finalmente conseguia trocar algumas palavras com ela, coisa que parecia impossível quando a loira namorava o irmão. Estava pronta para responder a pergunta simples de Anastasia quando um movimento aleatório na pista de dança chamou a atenção. Kitty sequer sabia porque tinha olhado naquela direção, atrás de Anastasia. Deveria focar apenas na mulher a sua frente, afinal, mas ela estava olhando por cima dos ombros, para Aidan e Mary dançando de maneira bem íntima.
Kitty quis causar um terremoto e afastá-los. Gritar e abrir um buraco no chão que engolisse o baile todo. Puxar os cabelos dele e lhe dar várias pedradas. Tudo o que os homens fazem é contar mentiras, pensou, sentindo a pancada de raiva e de ciúmes desconfortáveis atingir o estômago. Por um momento, quis apenas se deixar levar pela raiva, mas ao invés disso apenas pegou novamente o copo com mojito e o virou, sem se importar com a intensidade do sabor ou a forma como descia quente pela garganta. Precisava de qualquer coisa para distraí-la da cena, por isso focou nos olhos azuis de Anastasia. Azul era uma de suas cores preferidas. Decidiu então que não faria cena alguma, não era esse tipo de mulher. Estava muito acima de um homem qualquer e seu comportamento indecente e mentiroso, embora desejasse estragar o rosto dele. Portanto apenas forçou um sorriso por entre os lábios, pensando na resposta da pergunta dela, ignorando a força da fúria que ardia em seu interior. "Gosto de quando as pessoas me tratam bem e são sinceras. Não gosto de mentiras. Se forem boas comigo, sinto vontade de conversar novamente e me manter próxima." Respondeu, virando o copo novamente para as últimas gotas e pedindo mais um. "Eu deveria ser imprudente e mal comportada hoje?" Era uma pergunta mais para si mesma, no entanto, sabia que seu comportamento ruim não se resumiria a dançar sem vestido em cima de uma mesa. Kitty respirou fundo, sentindo em seu âmago pequenos tremores; a terra reagindo aos seus próprios espasmos de raiva. "Queria me sentir como você. Mesmo sem beber, me sinto cada vez mais pesada, como se tivessem pedras em meu estômago... mas não vou vomitar ou arruinar nada por aqui, não se preocupe." Queria avisar, porque não desejava que Nastya a considerasse nojenta de alguma forma. "Você consegue controlar como vai se sentir? Consegue controlar os outros também?" Deveria pedir uma intervenção da bela filha de Afrodite? O chão vibrava, ondas pequenas que apenas Kitty conseguia perceber. Apesar do que sentia, não queria arruinar o baile e ganhar a eterna antipatia de Eros e Afrodite. Aidan não merecia essa reação. Se resolveria com ele depois. Ou não. Poderia muito bem ignorá-lo pelo rosto de seus dias. Quando o outro mojito chegou, Kitty não hesitou em levá-los aos lábios. "Obrigada por isso. Parecia que você estava adivinhando que eu precisaria de algo forte hoje." Deixaria seu surto para outro momento, por ora, apenas aproveitaria da companhia enigmática de Anastasia.
SCARS to your beautiful .
PLOT DROP : o que aconteceu com Anastasia de Bragança .
trigger warning. menção à ansiedade e leve mutilação.
Sabia que tinha sido ingênua em pensar que suas ações de bravura repentinas, impulsionadas pelo álcool, não teriam consequências. Foram vários dias na enfermaria, implorando para que a mãe permitisse que não tivesse nada que a fizesse lembrar para sempre aquele dia. Mesmo que não fosse próxima de Flynn, havia algo em si que lembrava das lâminas das pelúcias enfiando em suas pernas, em seus braços e, acima de tudo, em seu rosto. Os dedos tocaram o curativo como se soubesse o que estava prestes a acontecer.
PART ONE . THE BRAVE BEAUTIFUL GIRL .
Contexto : Pós interação com Kitty ( você confere mais aqui ) .
Não virou novamente para verificar se a filha de Hades tinha ido embora. Esperava firmemente que tivesse sido esperta o suficiente para correr para longe, já que as pelúcias avançavam cruelmente na direção de Anastasia. Sabia que aquilo aconteceria, mas precisava ganhar tempo para os outros campistas. A espada empunhada, a Sharp Beauty, repousava naturalmente e confortavelmente em sua mão, fazendo com que tomasse a postura defensiva rapidamente. Os primeiros golpes foram dados contra um dos primeiros ursos que tentavam chegar perto e, ao cortar os braços e a cabeça, achou que seria o suficiente. Como estava errada. Quanto mais tentava cortar, mais parecia irritá-los a ponto que chegassem por todos os lados, encurralando ela. A cena era quase cômica se as lâminas não fossem afiadas o suficiente para que brilhassem sob a luz do lugar.
Sentiu o cheiro de fogo, mas estava tão focada em conseguir tempo que sequer teve tempo de olhar ao redor. Mesmo que fossem pequenas, era impossível contê-las para que não atacassem o corpo. O vestido era rasgado facilmente pelas lâminas e Anastasia fazia o seu melhor para desviar, reposicionando com uma postura de ataque. Ainda sim, sentia as lâminas rasparem superficialmente contra a pele das pernas, algo que era um incômodo, mas os reflexos faziam com que desviassem, colocando-se no caminho dos mais fracos e permitindo para que corressem para onde Dionísio tinha indicado. Estava prestes a fazer o mesmo quando sentiu um cheiro diferente, algo que não estava ali antes. Não sabia o que era e viu apenas uma névoa vermelha invadir os olhos, depois as narinas e, enfim, a mente.
O coração pareceu despencar do peito e, então, bater de forma mais acelerada novamente. A mão fechou-se mais forte contra a espada, conforme as lágrimas invadiam a visão. Precisava lutar mais, precisava proteger aquele lugar independente do custo. Olhou rapidamente para o lado, percebendo que aquela fumaça estranha parecia emanar de Aidan, mas não importava. Nada daquilo importava, nem a própria vida. As memórias dela chorando embaixo da mesa da sala, escutando o pai bravamente lutar contra um monstro que sabia que não tinha chance, invadiam a cabeça dela, fazendo com que quisesse permanecer mais e tomar a decisão que, para ela, era a mais corajosa do mundo. Desejava se sacrificar para que todos tivessem tempo de escapar, mesmo que isso significasse que não saísse do pavilhão. Combatia firmemente com as pelúcias, mesmo que estivessem ainda mais agressivas. A cada lâmina que tocava a pele macia de Anastasia, mais um soluço saía dela. Fraca, era fraca, assim como aquela noite que tinha perdido o pai.
Não soube quantos minutos tinha passado ali, mas sentia o corpo fraco. No entanto, recusava-se a dar por vencida, conforme batalhava com as pelúcias e fazendo o máximo para que fossem completamente eliminadas. O corpo dela estava ensanguentado do próprio sangue, mas recusava-se a parar, o coração tomado pela fúria e pela mágoa das próprias ações. Não podia permitir que tivessem perdas aquela noite. Mesmo que a pessoa não fosse alguém que se importasse, com certeza o semideus teria amigos e família e amores; aquelas pessoas se importariam e chorariam pela sua morte. Anastasia sabia que o luto era muito difícil de lidar.
Quando tudo pareceu acabar e escutou a voz de Quíron, anunciando a morte de Flynn, Anastasia caiu de joelhos, as pernas incapazes de sustentá-la. Independente do quanto tinha se esforçado, alguém tinha morrido e era toda sua culpa. Era fraca. Precisava melhorar, devia melhorar. A mente estava enevoada pela falta de sangue do corpo, assim como pela gravidade dos ferimentos no corpo inteiro. Não sabia exatamente quando tinha sido atingida tão gravemente, mas estava tão focada nos próprios pensamentos que sequer teve tempo para pensar em si mesma. Conseguia ver cortes pelos braços, mas sentia o rosto arder em chamas, a dor infiltrando-se em cada músculo facial. Os olhos varreram o ambiente, como se tivesse tentando definir se realmente estava tudo bem. Com um suspiro, se rendeu à escuridão.
Os próximos minutos (ou horas, não se sabe ao certo) foram marcadas por ela recuperando a consciência por alguns segundos. Acordou no chão do pavilhão, desmaio. Estava sendo carregadas por braços que não sabia distinguir de quem era, mas eram fortes o suficiente para colocá-la em algum lugar. "Eu vou morrer." A voz saiu fraca quando decidiu isso para a pessoa dona dos braços que a carregavam, já que talvez fosse a última pessoa que encontrasse. Antes que pudesse absorver mais qualquer coisa, a escuridão a engoliu novamente. Piscou mais uma vez, encarando olhos azuis e realmente quis dizer algo inteligente, talvez algumas últimas palavras inspiradoras, mas tudo que conseguia pensar era que queria dormir. "Se eu morrer, espero que eu não sinta." E, novamente, nada.
Quando acordou na enfermaria, a cabeça estava confusa e o corpo inteiro encontrava-se cheio de bálsamos com faixas. Estava completamente dolorida e confusa com o que tinha acontecido. Sequer se lembrava. Estava tão cansada que decidiu voltar a dormir.
PART TWO . FALLING INTO YOUR OCEAN EYES .
Depois de semanas com as bandagens e curativos, Anastasia tinha criado uma expectativa a respeito dos machucados. Os mais leves tinham fechado perfeitamente nas primeiras horas, principalmente em decorrência da cura mais acelerada. Jamais tinha estado em um processo mais longo de cura, ainda mais quando quase todas as missões que fora aconteceram quando tinha um nível mais profundo de conhecimento a respeito do poder e da espada. O coração batia mais acelerado contra o peito quando recebeu o veredicto que, quando estivesse preparada, poderia remover os curativos do rosto. Aqueles eram os que mais estava ansiosa, para ser sincera. Independente do que tivesse acontecido, esperava que não fosse tão terrível quanto imaginasse. A mãe também tentaria ajudá-la de alguma forma com aquilo, certo? Sabia que Afrodite não aceitaria uma filha que fosse feia sob os olhos dos outros.
Ao chegar no chalé, fechou a porta atrás de si e sentou em frente a penteadeira branca que era decorada por enfeites cor-de-rosa e creme. Precisou de alguns minutos para finalmente tocar no rosto, temendo o que fosse encontrar atrás do curativo. Mais um tempo foi necessário para que a coragem viesse até ela, já que tocava na borda e desistia. Contou até três e, com os olhos fechados, sentiu a cola desvencilhar da pele. Um suspiro saiu dela assim que sentiu o ar tocar a pele que estava escondida durante aquele tempo, aliviando e sensibilizando. Foram dias repletos de agonia e incertezas, algo que não estava acostumada. Fazia tempo que não sentia-se tão mal a respeito de si mesma e do que era capaz. Desde que foi proclamada, Anastasia estava acostumada a ser naturalmente bonita, com o cabelo sempre alinhado, a pele impecável e uma maquiagem inata. Não esforçava-se excessivamente, já que ser filha de Afrodite era o suficiente, mesmo que adorasse passar horas planejando o guarda-roupa da semana e pintando as unhas para que combinassem com as cores que utilizaria.
Quando os olhos finalmente abriram, encarou-se no espelho como se fosse a primeira vez que se visse. O rosto não parecia mais o mesmo, principalmente graças a cicatriz gigante que havia em sua bochecha que descia até o maxilar. As mãos cerraram-se no colo, tentando absorver a imagem que a encarava. Era estranho, muito diferente. Pela primeira vez em anos, a filha de Afrodite se sentiu horrorosa. Mesmo que os olhos azuis fossem os mesmos, a boca cheia continuasse, a cicatriz parecia tomar toda a atenção. Tudo que tinha de positivo no rosto era anulado pela grotesca linha que parecia deformar a pele. O enjoo invadiu antes que pudesse perceber e a mente foi invadida pelos pensamentos negativos que pareciam salpicar em sua mente. Sentia-se como se pudesse morrer naquele momento. O mundo girava ao seu redor, a visão parecendo fazer com que a cicatriz parecesse ainda maior. Como poderia livrar-se daquilo imediatamente? E se olhassem para ela e nunca mais sentissem nenhum desejo? E se zombassem toda que vez aparecesse, porque, além de lutar excessivamente com pelúcias, tinha ganhado aquela lembrança terrível? As pessoas definitivamente nunca mais gostariam dela, já que tudo que importava era como se parecia. Costumava ser perfeita, mas tudo que restava agora era a deformação.
Não percebeu quando começou a chorar, já que a respiração acelerada e inconstante parecia levá-la a um ponto de ebulição. Antes que pudesse perceber o que estava acontecendo, a destra foi para a pulseira e puxou Sharp Beauty. Talvez nem merecesse mais a espada, já que era bonita demais para um monstro como ela. A lâmina atravessou o frágil espelho, fazendo com que as partes caíssem na madeira. O mundo era um borrão dentre as emoções de perda, culpa, mágoa, tristeza e raiva que a invadiam. As lágrimas eram incontroláveis e, por mais que tentasse respirar para se acalmar, assim como tinham ensinado, não parecia o suficiente. Se não era bonita, o que era? O que deveria fazer?
personagens mencionados no pov : @zeusraynar e @aidankeef
❛Just keep looking at me. No one else matters.❜
FLASHBACK . As noites sempre eram piores. Quando fechava os olhos, parecia sempre estar sendo engolida novamente para a escuridão que envolvia os pesadelos que teve. Mesmo que possuísse agora a bênção para protegê-la, Anastasia não acreditava que era o suficiente. Os sonhos ruins jamais paravam e era por isso que, na maioria das noites, sempre entrava silenciosamente no chalé de Bóreas para dormir com Santiago. Havia algo sobre a presença do amigo que tornava os pesadelos mais suportáveis, mesmo que temesse que jamais fossem a abandonar. Novamente, tinha acordado sem ter certeza de onde estava. A respiração estava ofegante, levantando-se da cama como se ela estivesse infestada com as cobras com as quais estava sonhando. Podia praticamente senti-las deslizando pelas pernas e pelos braços, desejando ter um pouco de Anastasia para si, infestando e provando. Escutava os chocalhos e os chiados das serpentes, que tinham se tornado parte intrínseca das noites dela. Mal tinha notado que estava chorando encolhida em um canto do quarto até notar a aproximação do amigo, tirando-a das lembranças que pareciam dilacerar o peito de dentro para fora. Subiu o olhar e focou no rosto de Santiago. Ali, encontrou um pouco da calmaria de que tanto precisava e esqueceu dos pensamentos que a levavam para a caverna novamente. Em um gesto familiar e natural para a filha de Afrodite, permitiu se afundar no abraço dele para que se lembrasse de onde estava. Com quem estava. Afundou os dedos nas costas alheias, a cabeça apoiada como se tivesse medo de soltá-lo e ser transportada para o pesadelo novamente. Ele era real. Ela era real. Agarrou-se ao aroma dele, à sensação dos braços ao seu redor e à voz que parecia carregada de preocupação. As lágrimas não escorriam mais pelo rosto e os chiados não eram mais tão altos a ponto de sequer conseguir pensar. Quando finalmente se afastou, deu um suspiro e um pequeno sorriso apareceu nos lábios dela. "Eu estou bem."
O olhar dele sobre ela, mesmo que fosse muito bem-vindo pela filha de Afrodite, também fazia com que ficasse com um sentimento esquisito no peito. Mesmo que não fossem mais visíveis, podia sentir os dedos de Melis segurando o pulso e depois a mão, até que não conseguisse mais suportar o peso de ambas e o calor tivesse feito com que ela escorregasse. Independente do que tinham falado, Anastasia sentia-se culpada pelo que tinha acontecido. Tudo que ansiava era que tivesse aguentado o peso mais alguns segundos, mesmo que a adrenalina não fizesse com que pensasse em outra coisa além de tentar agarrá-la a qualquer custo. Não perderia mais tempo se lamentando, no entanto. Estava cansada de gastar lágrimas em situações que não poderia rever de alguma forma. Assim que se certificasse de que todos os campistas estavam recuperados do ataque, iria atrás dos semideuses que tinham caído. Na sua cabeça, aquilo já estava decidido. "Eu não dormi seguido de eu estou bem não combinam muito bem." A voz saiu de forma brincalhona, mesmo que os olhos estivessem procurando nele qualquer sinal de que a situação alheia tivesse piorado. Levantou-se do lugar onde permanecia sentada anteriormente, colocando a mão na testa dele e depois na bochecha, tentando sentir qualquer sinal de um calor excessivo. Tentou não pensar muito sobre isso, mas a respiração ficou mais profunda. Era uma reação natural do corpo, então não pensaria mais sobre isso. Pelo menos, era o que estava se forçando a fazer. Tinha prometido a si mesma que, com a reação alheia que o outro teve no ofurô, manteria o relacionamento deles mais leve. Claramente, Santiago e ela nutriam os mais platônicos dos sentimentos. Não refletiria sobre qualquer coisa diferente daquilo novamente. "Talvez você pudesse pedir um tônico ou algo assim para dormir e descansar. Você, mais do que ninguém, merece algumas horas de sono sem nenhuma preocupação. Apenas fechar os olhos e nada a seguir." Ambos tinham problemas com pesadelos desde muito tempo atrás, o que piorou depois da missão que compartilharam. Com o sumiço dos campistas, no entanto, o sentimento de preocupação parecia crescer na enfermaria.
"Não se preocupe comigo. Algumas horas sentada em uma cadeira não são nada se for para me certificar de que você está bem." Os lábios dela voltaram-se para cima, o que demonstrava que realmente não se importava com aquela situação. Para aqueles que amava, Anastasia não media esforços, ainda mais com alguém que considerava como parte da família. Assim que tinha descoberto o que tinha acontecido com Santi, tinha corrido para a enfermaria, garantindo-se que não tinha sofrido gravemente com o ataque. Afastou-se suavemente dele, voltando-se a sentar no lugar. "Você não parece mais tão mal. Talvez consiga alta ainda hoje para ficar deitado no chalé." A declaração saiu com confiança. "Se quiser, posso ser sua enfermeira particular." Uma risada escapou dela, tentando não pensar em qualquer outra questão que estivesse incomodando a mente. Queria focar na melhora de Santiago, que era a sua principal questão.
Não aguentava mais aquela porra de lugar mas, ao que tudo indicava, sua alta viria na manhã seguinte–invés de o tranquilizar, o fato só servia para deixá-lo ainda mais agitado. A companhia de Anastasia durante a noite o reconfortou, sim, mas também fez com que não se permitisse pegar no sono, sabendo que seus pesadelos inevitavelmente a iriam acordar. Para manter-se ocupado nas horas da madrugada, havia considerado perambular pelo cômodo de maneira silenciosa, na esperança de se acostumar com os músculos ainda doloridos. Antes que tivesse a chance, Nastya havia entrelaçado os dedos nos seus, e a opção lhe foi roubada pela sensação de ser ancorado por algo em meio à tempestade de emoções que vinha enfrentando.
Nunca o admitiria para ela ou para ninguém, mas se permitiu observá-la enquanto dormia, o rosto relaxado a fazendo parecer mais nova, a expressão livre da careta de preocupação que vinha franzindo seu senho desde que a fenda havia sido fechada, o colocando na enfermaria e enviando suas amigas para o buraco. Mal havia amanhecido quando ela o pegou no flagra a encarando, e Santiago fez o seu melhor para disfarçar, desviando o olhar para qualquer lugar que não o rosto ao qual observara ou a mão pousada na sua. Fingindo normalidade, olhou ao redor como se procurasse uma enfermeira, e só se permitiu voltar a atenção até ela quando a farsa lhe pareceu convincente o suficiente. ʿ Bom dia. ʾ Ofereceu de volta com um sorriso incerto, como se não tivesse o direito de expressar emoções positivas na situação em que o Acampamento estava. Mesmo agora, ao vê-la se levantando, se pegou a escaneando por machucados não descobertos pelo que devia ser a vigésima vez. Era impossível não se preocupar quando o assunto era ela. ʿ Eu não dormi. ʾ Admitiu porque não gostava de a dizer mentiras, sabendo que ela não o julgaria contanto que não contasse o porquê. ʿ Eu estou bem, Nas. Sério. Você não precisava ter passado a noite na cadeira, deve ter sido desconfortável para caralho. ʾ A repreendeu, tendo contemplado oferecer a partilha da cama de solteiro que ocupava na noite anterior, e não o tendo feito pelo mesmo medo de sempre: rejeição.