"Na verdade, não. Mentira não é um sentimento exatamente, mas posso sentir a pessoa nervosa. O coração acelerado, as mão suando... Toda essa combinação consigo sentir. Posso supor que seja por conta de uma mentira, mas não consigo afirmar. Pode ser outras coisas, como uma dor de barriga." Deu de ombros, já que não sabia se desejava saber aquilo, de qualquer forma. Era mais fácil viver com as mentiras do que saber quando alguém não estava lhe falando a verdade. Algumas mentiras eram feitas para não serem descobertas, mesmo que pensasse que talvez Kitty estivesse chateada excessivamente com a cena que tinha visto. Desejava questionar a semideusa sobre o que se tratava, se estavam tendo algum envolvimento romântico profundo, mas, ao mesmo tempo, achava que era melhor não saber. Era mais por um anseio de saber uma fofoca do que alguma preocupação real, então manteve os lábios fechados enquanto escutava a outra falar. Não era muito do seu feito, mas talvez o álcool estivesse dando uma percepção maior do que deveria fazer. Estava prestes a respondê-la que não a odiava, apenas não gostava de mistérios. A semideusa, para Anastasia, era um dos maiores mistérios que existiam para ela. Por que aquilo acontecia somente com Kitty e não com outros? O que era aquela camada de poeira e escuridão que protegia ela dos poderes de Anastasia? Havia tanto que não sabia e gostaria de descobrir, então ser desgostosa com a filha de Hades era mais fácil do que confessar que gostaria de conhecê-la mais para que pudesse compreender quem era. Para ser sincera, até mesmo ficava assustada com aquilo. Antes, achava impossível alguém resistir às conexões mentais que realizava, porém, de alguma forma, a mente alheia parecia nutrida das próprias defensas que impedem que isso aconteça.
As palavras morreram antes que pudesse falá-las quando escutou o grito vindo de algum lugar não tão longe. Não demorou muito para que o caos se instaurasse e o coração de Anastasia começasse a bater aceleradamente contra o peito, deixando com que não soubesse exatamente o que deveria fazer. O fogo não demorou para que começasse a tomar conta do pavilhão, assim como os bichinhos de pelúcia que marchavam em direção das duas. A mão de Anastasia foi para a pulseira dourada entalhada com flores, puxando-a para que a espada, Sharp Beauty, se revelasse para que trabalhasse contra aquelas criaturas. Estava enjoada, é verdade, além dos sentidos estarem bagunçados pelo excesso de álcool que estava em seu sangue. Tinha sido tola novamente, acreditando que nada ruim aconteceria. Por algumas horas, enganou-se pensando que, finalmente, teriam um momento de felicidade e leveza, no qual poderia dançar, beber e festejar. A vida de semideuses, no entanto, não era marcada por momentos felizes e aquilo era exposto sem piedade para todos aqueles que, como a filha de Afrodite, foram ingênuos em acreditar. Não poderia permitir que pagassem por pecados que não tinham sido eles que tinham cometido. As pelúcias, que anteriormente eram adoráveis, marchavam perto delas e, tomada por um instinto de proteção, colocou-se entre elas e Kitty. A memória do pai tomou conta de Anastasia, que quase caiu de joelhos, pedindo que arrancassem aquilo dela. Havia mais a ser feito do que sentir pena de si mesma. Ela não permitiria que tirassem a vida de mais alguém, ainda mais quando ansiava conhecer a pessoa. Segurou o rosto dela por um segundo, a mão macia de Anastasia tocando a pele alheia, obrigando que os olhos se encontrassem o suficiente para que a filha de Hades visse a seriedade por trás dos olhos claros. Não saberia se conseguiria, mas daria a vantagem para Kitty. "Preciso que você vá e ajude as outras pessoas, Kitty." Não saberia se aguentaria por muito mais tempo segurar o enjoo que parecia subir em decorrência do coração que queria decolar do peito. Mesmo que não fosse corajosa, faria o suficiente para que os outros conseguissem escapar daquele caos.
Com a arma em mãos, Anastasia encarou as pelúcias, pronta para enfrentá-las.
FINALIZADO.
"Não!" Exclamou, a voz mais aguda e alta do que de costume, sem desejar que Anastasia soubesse que estava mal por causa de um homem. O último homem a partir seu coração tinha sido há praticamente dez anos. E depois havia ficado de coração partido por Stevie, mas sofrer por uma mulher que tinha sido uma amiga se configurava como uma sensação diferente no peito. Novamente sentia o coração apertado e pesado, com algo desconfortável se instalando na garganta. Tentou não focar no que estava acontecendo ali tão próximo, não quando já havia presenciado uma cena semelhante antes. Não havia desculpas. Tinha sido apenas uma tola, por isso queria apenas beber todas e se afogar em álcool. Tentou sorrir com as palavras de Anastasia, uma tentativa mal sucedida e vergonhosa. "Mentiras não valem a pena, por isso os seus poderes são incríveis. É possível saber quando alguém está mentindo? Não sei muito sobre os seus poderes." Apenas de que terminou com meu irmão por causa deles, pensou. Era próxima o bastante de Sasha para saber alguns pequenos detalhes de seus relacionamentos, de maneira que sabia porque o namoro com Anastasia tinha chegado ao fim. Não que Kitty a considerasse companhia perfeita para o irmão, mas tinha arrasado seu coração vê-lo mal. Sentia que deveria nutrir algum desafeto com ela por isso, mas estava ali, terminando seu segundo drink, incapaz de se afastar um centímetro sequer, mesmo que em seu interior houvesse ainda certa vontade de destruir a festa. "Seus poderes são muito interessantes, Anastasia, você é interes... Ah, meu estômago. É verdade!" Kitty deixou seu drink não finalizado de lado e deixou-se ser arrastada para longe dali, para longe o bastante para que não pudesse ver Aidan e Mary tão juntos. Ela sequer conseguia vê-los pela vista de dança. Portanto engoliu em seco e acompanhou Nastya, grata pela loira naquele momento.
"Você está certa, vai ser bom para o meu estômago." Sob as sombras de uma árvore grande, ainda iluminadas pelas luzes do baile, Kitty balançou sua cabeça em negativa. "Estou me sentindo estranha. Está tudo meio esquisito." Sentia como se todos os seu órgãos tivessem decidido protestar ao mesmo tempo. O coração doía, o estômago parecia embolado e os pulmões não davam conta de respirar o suficiente. Ela não sabia se era pela bebida, por Aidan, ou algo mais. Talvez tudo ao mesmo tempo, deixando com a sensação pesada no corpo inteiro, um pouco nervosa. Silenciosamente, agradecia pela mão de Anastasia ainda a sua, que parecia mantê-la presa à realidade e evitar qualquer surto. A mão quente e os dedos finos pareciam o bastante para prender seus pés ao chão, por isso decidiu focar nela e em seus segredos. Uma oportunidade que não iria se repetir, Kitty tinha certeza. Deveria aproveitar a sua chance, deixando de lado todos os nós da cabeça, deixando para depois os problemas com os quais deveria lidar. "Por que nunca gostou de mim?" Indagou, de forma direta, por fim soltando os dedos dela. "Eu sempre senti isso. Desde quando namorava o Sasha, sempre pareceu não gostar muito de mim. Mas está sendo legal agora, então não consigo entender bem." Kitty não tinha certeza se era realmente a verdade, mas era a forma como se sentia, como sempre tinha se sentido com relação a Anastasia. Temorosa por se aproximar, envolta em uma camada estranha de sentimentos poucos amistosos.
FLASHBACK . A expressão de desagrado foi óbvia em sua expressão, não fazendo nenhum esforço para disfarçar. Mesmo que não fosse confessar em voz alta, Raynar sabia quando ela provavelmente estava mentindo, então não fazia questão nenhuma de fingir ou sentir alguma coisa diferente. "Se alguém tirar uma foto minha assim, aí sim teremos um afogamento." Os olhos dela desviaram do rosto alheio, olhando em volta como se procurasse. Apertou os lábios, levemente nervosa, uma vez que não estava mais em sua roupa mais atraente possível. Mesmo que fosse só um biquini, Anastasia gostava de estar bonita, mesmo que soubesse o quão fútil era aquilo. Se fazia com que se sentisse bem, então fazia sentido gastar tempo com as roupas que utilizava no dia-a-dia. Um sorriso natural apareceu nos lábios dela quando viu a comida ao redor deles. Afundou o rosto e depois o corpo, esperando que aquilo fosse o suficiente para que conseguisse observar os peixes, que não demoraram a ir ao redor deles. Havia tantas cores, aparecendo como uma aquarela perto deles. Fazia tempo que não observava algo tão belo assim, gravando a imagem na mente para que pudesse descrevê-la mais tarde para o pai. Voltou para a superfície assim que o oxigênio acabou, tirando o snorkel por um segundo. Os olhos voltaram-se para o semideus. "Será que algum dia vamos ter algum tempo de paz assim novamente?" O corpo, naqueles dias, parecia ter sido tomado por uma leveza inerte, que espalhava em cada uma de suas células. Parecia constantemente flutuando entre as nuvens, o humor sendo apaziguado pelo clima que semelhava a tropicalidade.
O bom da falta de questionamentos é que ele não precisa tirar o sorriso de vitória do rosto salpicado de queimaduras. Mesmo com todo o protetor solar do mundo, a ausência de sol e o céu coberto de nuvens do acampamento, tinham sensibilizado a pele do filho de Zeus. O bronze dos treinamentos dando espaço para a skin mais clara, dos tempos que morava entre as montanhas e com neve até os joelhos. “ 🗲 ━━ ◤ Não, claro que não. ◢ Provocou com os cantos da boca exageradamente para baixo, a cabeça negando com veemência. “ 🗲 ━━ ◤ Um afogamento aqui está mais para humilhação. Acho que vi alguém com uma câmera... ◢ Hornsby disse aquilo só para irritá-la, não achou que fosse realmente assustar. Usando o apoio da escada, ele saiu de trás e ergueu o braço, a mão espalmadas nas costas do colete salva-vida. “ 🗲 ━━ ◤ Tenha cuidado, Santos. Deveria ter sugerido que pulasse logo. Uma entrada rápida e limpa. ◢ Segurando a vontade de carregá-la pelo colete e colocar no meio daqueles corais, Raynar esperou que entrasse completamente dentro d'água. “ 🗲 ━━ ◤ Vou nos levar o mais distante dos outros, porque essa movimentação toda vai assustar a maioria dos peixes. ◢ Com Anastasia a tiracolo, o filho de Zeus caminhou submerso. Os olhos azuis focados na movimentação da água, na corrente que passava pelas pernas. Quando achou um lugar ideal, destampou a garrafinha com comida de peixe e espalhou ao redor dos dois. “ 🗲 ━━ ◤ Vejo você lá embaixo, firecracker. ◢
Já tinha visto o Santiago irritado anteriormente, principalmente devido à convivência que tiveram ao longo dos anos. A amizade deles tinha sido fortalecida por conta daquele vínculo, sabendo que ambos podiam confiar um no outro, independente do que acontecesse. O afastar do outro fez com que o peito doesse, sabendo que tinha errado assim que viu a expressão no rosto alheio. Sabia que não era fácil, mas talvez fosse por melhor. No entanto, se aquele era o caso, não deveria estar se sentindo melhor? A ausência da mão alheia, um gesto que era tão natural para eles, parecia criar mais uma barreira entre os dois. Não queria perdê-lo, mas, naquele momento, parecia inevitável. Sentia-se uma tola por ter se permitido chegar tão longe, ainda mais quando havia tanto a se perder. Tinha prometido, no fim do último relacionamento, que não desejava passar por aquilo novamente. Os olhares magoados, as palavras cheias de rancor... Não deveria afetá-la novamente. Anastasia tinha colocado em sua mente que era quebrada demais para permitir ter afeto daquela forma. Ainda assim, estava ela ali, na mesma posição em que pediu aos deuses para não colocá-la novamente. O medo fazia com que o bolo na garganta se formasse.
Abriu a boca e a fechou novamente, sem saber ao certo o que dizer. Então, permitiu que ela abrisse, porém nenhum som foi produzido. Estava desnorteada com as palavras alheias. A proximidade dele, quando estava sentindo a respiração alheia contra o próprio rosto, foi a tortura que não esperava enfrentar, ainda mais quando absorvia os sentimentos que a inundavam. Era incapaz de enfrentar aquele tormento quando estavam tão perto. Ao olhar diretamente para ele, no entanto, via a mágoa contida, muito além das palavras. Não precisava entrar em sua mente facilmente para compreender aqueles sentimentos. Fechou os olhos, absorvendo cada aroma, cada golpe, cada emoção. Talvez merecesse isso, tinha sido egoísta de novo, mesmo quando prometeu que não o faria. Quando ele fez o mesmo gesto que tinha feito anteriormente, quando estavam no ofurô, o cenho dela franziu suavemente, sendo invadida pela preocupação novamente. Não buscaria pela mente dele; sabia que encontraria aquela barreira que conheceu e desaprovou. Queria saber mais, mas não estava em posição de questioná-lo sobre o assunto. Deu um passo como se quisesse ajudá-lo, a mão levantando em instinto, mas sabia que Santiago não queria sua proximidade. Talvez isso a magoasse ainda mais: saber que não poderia simplesmente abraçá-lo até que aquilo não fosse mais um problema. "Não estou me justificando." As palavras saíram de forma hesitante, sabendo que era um péssimo começo para o que estava prestes a dizer. "Você acha que é simples para mim?" A voz dela saiu mais baixa do que queria, quase um sussurro, mas carregada de emoção. "Eu sou um caos, Santiago. Não quero que você tenha que enfrentar isso, porque nem mesma eu sei como fazer." Mordeu o lábio, enfrentando novamente o bolo que se formava na garganta. Tinha lutado contra si mesma durante toda a vida: quando o pai morreu, quando vivenciaram a primeira missão, quando foi ferida tão gravemente que o rosto continha aquela maldita cicatriz.
"Nunca foi minha intenção que você se sentisse assim." Era difícil encará-lo naquele momento, mas Anastasia fazia o melhor que podia. As palavras saíam tropeçadas da sua boca, como se temesse perdê-las a qualquer momento. Mesmo que tivesse a intenção de que se afastassem durante o tempo que ficou sumida, parecia que tornou toda a situação ainda mais difícil de ser explicada. Para ela, fazia todo sentido, já que seria mais fácil. Era uma grande medrosa naquele aspecto. Sabia que era uma desistente, mas não confessaria em voz alta. "Pelos deuses, acho que me importo tanto com você que dói." Controlou a vontade de segurar na mão dele, para que compreendesse através dos gestos a intensidade do significado dele para ela. "Nunca quis que você sentisse que eu não me importava com você, que eu estivesse brincando com você ou te torturando para o meu próprio prazer." Ele era a sua família. Mais do que qualquer coisa que eram ou que poderiam ser, não ansiava que ele fosse apenas passageiro. Precisava que ele ficasse, mas, ainda assim, parecia egoísta da sua parte falar que queria aquilo. Santiago merecia mais do que Anastasia. Foi quando decidiu agachar-se em frente à poltrona em que ele estava sentado, permitindo que os olhares se encontrassem novamente. "Me afastei porque pensei que seria mais fácil. Que, se eu desaparecesse por um tempo, você poderia viver sem o peso do que eu sou e do que eu não posso ser." Tinha dificuldades em enfrentar os problemas verdadeiramente. Poderia ser uma lutadora exímia, mas continuava batalhando com os demais problemas. Os relacionamentos antigos tinham demonstrado o quanto era difícil ter que enfrentar as consequências do poder e, acima de tudo, a realidade da própria mente, que parecia a vontade de pregar peças constantes em si.
O encaixar da mão de Anastasia na sua foi quente e familiar. Mesmo com toda a mágoa e a animosidade que vinha alimentando, não podia mentir a si mesmo: tinha poucos confortos em sua vida, e aquele era o único que persistia até então. A pele delgada na sua, tão perto e tão longe–em outra situação, o toque por si só o teria feito relaxar, mas naquela em particular seus ombros se enrijeceram em resposta. Talvez fosse por isso que o dilacerasse tanto sentir a distância que se abria entre os dois como um abismo, quando as meras migalhas de afeto que coletava em momentos furtivos como aquele eram mais que suficientes. Nunca havia se permitido pedir por mais, e o pouco que tomava para si ainda era mais do que ela estava disposta a ofertar. Entendia, pois nada tinha a oferecer em retorno, mas não sabia como o aceitar.
Seria tão fácil a puxar para si. Tão fácil calar suas mil e uma dúvidas com um beijo–mas então viriam as perguntas e a incerteza, e o silencioso amaldiçoado lhe roubaria até mesmo o pouco que agora era nada, pois nunca seria capaz de dizer as três palavrinhas usadas desde que o mundo era mundo para explicar o que sentia por ela.
Afastou os dígitos dos dela como se estivessem em chamas, pois não podia se dar ao luxo de a querer com tanto afinco quando a sentia prestes a descartá-lo. Como em resposta ao que sentia, a brisa gelada do Norte soprou por entre a janela entreaberta, um sinal que ela saberia ler porque o o conhecia como ninguém: estava tentando e falhando em se controlar. ʿ Agora você quer conversar ? ʾ Questionou, o tom afiado como uma lâmina ao se permitir estacar onde estava. Seria fácil interpretá-lo de maneira errada, escolher rotular o destempero como raiva e o colocar na mesma caixa de sempre, mas o gelo em seus olhos pareceu derreter quando por fim se permitiu a encarar. ʿ No. You don't get to do that. ʾ A informou quase em uma acusação, pronto para deixar claro o quão insignificante ela o havia feito sentir ao ignorar sua existência mesmo com todas as tentativas de se reaproximar. ʿ 'Confusão' não é justificativa para me jogar no lixo como um brinquedo quebrado. ʾ Prosseguiu, dando um passo e outro na sua direção, se inclinando para diminuir a diferença de altura até que seus narizes estavam a centímetros de se tocar. ʿ O que caralhos tem de tão confuso afinal ? ʾ A amargura na pergunta era palpável, pois lhe doía a ver permitir que a incerteza a respeito do que quer que fosse afetasse a única constância com a qual sempre haviam contado: um com o outro. ʿ You're not the only one who's suffering. You don't get to torture me for sport when you know... ʾ Pareceu tropeçar nas próprias palavras, interrompido pela dor lancinante que vinha toda vez que sentia seu coração empedrar–censurado pela deusa do amor, que se divertia ao castigá-lo. Anastasia não sabia, não realmente–não fazia ideia de como ele se sentia, e Santiago nunca lhe poderia contar. Levou a mão ao peito como se atingido por um golpe invisível, e recuou até se apoiar sobre o braço da poltrona vazia, parecendo quase impossível se manter de pé sempre que a maldição decidia lhe visitar.
Aceitou sua derrota e se acomodou de volta no assento, a respiração acelerada pouco fazendo para ajudar a encher seus pulmões de oxigênio quando mal parecia capaz de fazer o próprio peito subir e descer. Mesmo com a dor lhe partindo, tentou lhe dizer com o olhar tudo o que não podia o fazer com palavras. Se ela estava confusa, só o que tinha a oferecer em resposta era a certeza de quem sabia, desde a primeira risada que lhe roubara, que sua presença se havia tornado uma necessidade tão básica quanto o ar. ʿ You don't get to ask how I'm doing after you've shown me how little you care. ʾ Foi o melhor que conseguiu dizer, o mais próximo da verdade que era capaz de chegar. A voz foi quase um sussurro, como se envergonhado ao pronunciá-lo pois significava admitir, de maneira incontestável, que tudo o que queria era saber que ela se importava.
Estava exatamente como ela o havia deixado na última vez que estiveram juntos: Sozinho e ferido. Já não tinha como o ocultar.
FLASHBACK : verão de 2022 . Sorriu com a visão alheia. A chuva caía ao redor delas, pingando suavemente do toldo acima, mas o mundo parecia ter se contraído a esse pequeno espaço onde apenas as duas existiam. Os olhos dela, profundos e intensos, refletiam as gotas de chuva que caíam, e você podia sentir o ar mudar, como se a temperatura ao seu redor aumentasse apenas por causa da proximidade de Antonia. "É engraçado..." Começou, a voz baixa semelhante a um sussurro, como se fosse uma confidência apenas para ela. "A chuva tem um jeito de nos fazer parar e prestar atenção nas pequenas coisas." Ela deslizou o olhar lentamente pelo seu rosto, uma análise cuidadosa que parecia tocar cada ponto que ela observava. "Como o som que ela faz ao cair, ou… Como alguém parece." Um sorriso brincou nos lábios dela, um toque de diversão se misturando ao tom sério. Anastasia estava perto o suficiente para que pudesse sentir o calor de pele alheia, apesar da umidade que as cercava. Inclinou a cabeça de leve, deixando os fios molhados caírem para o lado. O tempo parecia desacelerar ainda mais. A forma como ela olhava para Antonia — uma mistura de curiosidade, brincadeira e algo mais profundo — fazia com que a chuva ao redor fosse apenas um detalhe. Aproximou-se um pouco mais da semideusa, os olhos brilhando com a visão que tinha. Permitiu que os olhos passeassem pelo corpo alheio sem nenhuma vergonha, demorando-se em cada detalhe como se quisesse capturar com precisão. “Eu não me importaria de esperar… se você também não se importar.” Anastasia desviou o olhar por um momento, como se estivesse ponderando, antes de retornar com um brilho no olhar, uma espécie de desafio silencioso que só ela poderia oferecer. "Afinal, o que é um pouco de chuva quando podemos nos divertir mesmo assim?" Havia algo naquele momento que parecia sagrado, como se fosse uma pequena bolha de tempo roubada de tudo o mais — e Anastasia, com todo o charme e mistério que ela carregava, parecia perfeitamente ciente disso. Ela deixou o silêncio pairar, os pingos de chuva a única trilha sonora.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀[ flashback ⸻ verão de 2022 ]
perdeu-se em meio a conversa com anastasia enquanto o assunto ia para os mais diversos lados que não percebeu a mudança do tempo. estava tão focada no pequeno vinco que a testa dela fazia quando comentava algum assunto animada que tudo ao seu redor parecia supérfluo. o cheiro de chuva não deixou negar e estavam atrasadas se quisessem não se molhar. antes mesmo que pudesse tomar alguma ação, sentiu o agarre da menina e a seguiu. os pingos gelados já havia transpassado o tecido da camisa cinza que usava e agora ela teria que torcer para não pegar um resfriado. não pensava em outra coisa sequer que deveriam se proteger antes de tentar voltar para a área dos chalés. pelos deuses, como ela podia ser tão angelical mesmo correndo na chuva? sua parte lógica queria atribuir toda a responsabilidade a mãe dela — somente afrodite tinha o poder de produzir algo como aquilo e parecer tão etéreo. assim que estavam cobertas, tentou tirar o máximo das gotas presas em sua bermuda. esperava que a chuva passasse em seguida, afinal, chuvas de verão eram passageiras, ou deveriam ser. puxou os fios encharcados para o lado e torceu um pouco o cabelo. sua visão periférica pegou os olhos de anastasia sobre si, dando um sorriso. ⠀⠀"⠀⠀o que foi?⠀⠀"⠀⠀indagou entre risadas, até a menina se aproximar e instintivamente se recostar em uma das madeiras que segurava o toldo. sua cabeça pendeu para o lado, com um sorriso brincando no rosto.⠀⠀"⠀⠀você não precisa usar a desculpa da chuva para ficar a sós comigo.⠀⠀"⠀⠀virou a cabeça para o lado assim que ouviu a pergunta, a balançando e voltando seu olhar sobre ela.⠀⠀"⠀⠀acho que não. deve demorar mais alguns minutos só.⠀⠀"
Os olhos de Anastasia avaliaram a cabeça de Yasemin, pensando se estava tão ruim. Ela teve sorte... O que não daria para os ferimentos serem em meio aos fios e não no rosto, como tinha acontecido com a filha de Afrodite. Estava se esforçando para manter a expressão neutra, temendo o que poderia acontecer caso se esforçasse demais. O corpo inteiro doía, mas, de alguma forma, aquilo não era uma grande preocupação. A dose de ambrosia que foi dado tinha sido um pouco maior, então esperava que a cura viesse logo. Sempre teve habilidades curativas um pouco mais aceleradas, então estranhava não estar completamente curada naquele ponto. "Seria tão ruim assim?" Um suspiro cansado saiu dela. Estavam lutando fazia tanto tempo e, naquele momento, não sabia se valia a pena. Não queria ter o rosto destruído por nenhuma cicatriz, mas aquilo parecia algo que teria que se preocupar futuramente. A mão foi para o pequeno espelho que pediu para os irmãos trazerem, olhando para o rosto como se procurasse algum sinal de que não era mais ela mesma. "Eu lembro dos seus gritos." A voz saiu quase como uma dúvida, ainda recuperando os fragmentos do que aconteceu na memória. "Está doendo muito a sua cabeça?"
❪ ⠀ ⠀ closed starter !!! ⠀ ⠀ ❫ this is for → @ncstya.
Ainda era a madrugada do caos. Yasemin estava esperando a hora certa de sair dali o mais rápido possível e desaparecer por um bom tempo. Depois de receber toda a assistência possível após o episodio com a coroa de espinhos e receber um curativo que se enrolava em sua cabeça, Will Solace se certificou pessoalmente que a garota ficasse ali até que fosse seguro sair sem que atentasse contra algo que a fizesse sangrar mais. Quase como se a conhecesse. E mesmo insistindo em ir a praia para se curar mais rápido, a situação não foi aceita. Sequer tivera tempo porque a enfermaria estava cheia. Foi quando se virou para o lado e se deparou com Anastasia, a olhando com atenção para ver seus ferimentos, um bastante exposto na face e diversas faixas pelo corpo. Droga... ❝ ― A gente vai morrer aqui, Ana. ❞ — Ela disse baixinho, murmurando, enquanto a encarava. Estava sem esperança alguma e puro desgosto estampado em sua face.
# ʚ♡ɞ 𝐈'𝐌 𝐒𝐎 𝐃𝐎𝐍𝐄 𝐖𝐈𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐑𝐈𝐍𝐆 .
anastasia de bragança em evento de afrodite !
WATERLAND . Optando por roupas confortáveis que utiliza no dia-a-dia, Anastasia escolheu um conjunto formado por legging, top e casaco de moletom pretos. É um conjunto que você provavelmente já a viu utilizando por aí, uma vez que faz parte dos treinos diários da mulher, principalmente combinado a um tênis branco que é um dos seus favoritos. O casaco foi tirado logo nos primeiros minutos do evento, principalmente em decorrência do calor. Não usa nenhum acessório além de um boné preto e nenhuma maquiagem.
BAILE DE GALA . A escolha do modelo do vestido para Anastasia não poderia ter sido melhor (obrigada, mãe). Combinava com o estilo mais simples e elegante da semideusa, que esperava não ter recebido algum vestido cor de rosa que parecesse um bolo de aniversário. O vestido, que é levemente justo no corpo dela, é completamente aberto nas costas, enquanto na frente sustenta algo que é semelhante a uma echarpe, mesmo que tenha uma abertura frontal. O tecido é de cetim, sendo agradável para a temperatura. Como acessório, tinha o brinco comprido dourado que combina com uma pulseira dourada. O cabelo está preso com algumas mechas soltas, além de estar usando uma maquiagem mais natural.
# ʚ♡ɞ 𝐅𝐄𝐋𝐈𝐙 𝐀𝐍𝐈𝐕𝐄𝐑𝐒Á𝐑𝐈𝐎, 𝐒𝐀𝐍𝐓𝐈𝐀𝐆𝐎 .
Mesmo sendo uma grande patricinha que adora gastar dinheiro com presentes caros, Anastasia prefere, em aniversários, planejar algo que realmente faça com que o aniversariante sinta-se especial. No aniversário de @aguillar, dia 17 de agosto, não poderia ser diferente. Como era uma surpresa, entrou sorrateiramente e colocou os presentes para o semideus em frente à porta do quarto dele. Foi embora antes de ser vista. Antes mesmo de ler o bilhete, era óbvio tratar-se de um presente de Anastasia, que fazia questão de borrifar um dos vários perfumes favoritos em cada um dos itens (exceto, é claro, nas flores).
O kit de aniversário de Santiago contém:
Um buquê de rosas vermelhas que continha um pequeno bilhete escrito : You're sunlight through a window, which I stand in, warmed (frase de uma das suas autoras de romance contemporâneas favoritas).
Uma caixa coberta de um papel vermelho e um laço dourado. Ao abrir, é encontrado algumas folhas, levemente amassadas. São um dos capítulos do livro de romance que Anastasia escreve e foram escritas do ponto de vista do protagonista, inspirado em Santiago. A outra parte do que tem é outra pequena caixinha preta, quase imperceptível em meio às folhas perfeitamente amarradas. Quando aberta, é possível ver um pequeno relicário prateado em formato de coração e com rosas em alto-relevo. Dentro dele, existe uma foto de ambos, tão antiga que provavelmente já tinha sido esquecida por Santiago, e, no outro, escrito A & S.
"Você não ama ele romanticamente, então?" Anastasia não hesitava em ser intrometida, mesmo que não ligasse tanto para o assunto. Não era o tipo de pessoa que segurava a língua, ainda mais quando tinha questionamentos ou críticas. A verdade é que estava um pouco surpresa com o envolvimento de Love e de Josh, as personalidades sendo incrivelmente opostas. Talvez a outra aliviasse a intensidade dele, mas não sabia ao certo. "Eu sei! E as pessoas subestimam tanto os perfumes do Yves Saint Laurent. A maioria é obcecado pelos da Dior e pelos da Chanel, mas, sério, acho que se você entrar no chalé de Afrodite, vem uma nuvem de Chanel Nº 5 e La Vie Est Belle. Nada contra, mas já deu, sabe?" Sabia que a outra provavelmente não se interessaria por aquele assunto, mas era inevitável para a filha de Afrodite não desabafar sobre aquele assunto. Para ela, como você cheirava refletia muito a respeito da sua personalidade. Por exemplo, Love com certeza usaria perfumes doces, porém com um fundo mais cítrico e fresco, não tão voltados para baunilha quanto a maioria das pessoas utilizava. "Vamos, vamos! Quero muuuita emoção." Quando chegaram, não havia mais fila, o que deveria ser um indicativo de que poderia ser demais, mas Anastasia não ligou. Pegou a mão da amiga e puxou para que sentassem no primeiro carrinho. "Está preparada?"
Love olhou para Anastasia como se ela fosse louca. ❝ ― Você sabe melhor do que eu como paixão, amor e essas coisas funcionam. ❞ — Ela riu porque imaginou que uma filha de Afrodite entenderiam melhor sobre essas questões a própria Kinn. A resposta do segredo a fez olhar de maneira curiosa e refletir sobre. Ok, considerando que ela era uma filha da deusa do amor e beleza, faria sentido guardar segredos de beleza. Ainda assim, Love desejou algo mais palpável. ❝ ― Hmmm, é um bom perfume. ❞ — Por fim elogiou. Não forçaria a barra, sabia bem que bons segredos vinham com uma dose de confiança e não sobre o domínio do medo. Quando sentiu o aperto em seu braço, encarou a montanha-russa e sorriu. ❝ ― Ok, vamos! Mas precisamos ir no primeiro carrinho. Sabe que ele é o mais emocionante, né? ❞ — Perguntou conforme corria animada para o brinquedo.
ʚ com @aguillar .
ʚ em ofurô (spa) .
Uma risada escapou dela naquela situação, mas logo ficou séria novamente. Estava acostumada com a proximidade com o semideus, então estar tão próxima enquanto permanecia concentrada enquanto passava a máscara que havia achado ali no SPA não causava nenhum estranhamento na filha de Afrodite. Talvez por terem passado tanto tempo juntos, a interação parecia completamente natural. "Fique quieto, estou terminando." A mão dela trabalhava sobre a superfície da pele, enquanto ambos estavam envolvidos pela água quente. Estava precisa daquilo, relaxando enquanto sentia as bolhas estourarem em contato com a sua pele. Só de estar na ilha parecia que o humor já tinha melhorado, uma vez que, desde os últimos acontecimentos, parecia que a cabeça parecia constantemente envolvida nos piores pensamentos possíveis. Massageava levemente o rosto do semideus, tomando cuidado com cada um dos lugares. Os lábios estavam curvados naturalmente para cima, demonstrando a leveza que o corpo dela estava experimentando. "Você não está se sentindo melhor aqui?" Uma risada escapou de Anastasia, tomada por aquele momento. Ignorava qualquer resquício do sofrimento que tinha, pensando que era um assunto para a mulher durante a noite, quando estivesse tomada pelos pesadelos. Precisava aproveitar aquele momento, porque parecia tão raro estar sentindo-se como Anastasia novamente.