Desenho Traça a reta e a curva, a quebrada e a sinuosa Tudo é preciso. De tudo viverás. Cuida com exatidão da perpendicular e das paralelas perfeitas. Com apurado rigor. Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo, traçarás perspectivas, projetarás estruturas. Número, ritmo, distância, dimensão. Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória. Construirás os labirintos impermanentes que sucessivamente habitarás. Todos os dias estarás refazendo o teu desenho. Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida. E nem para o teu sepulcro terás a medida certa. Somos sempre um pouco menos do que pensávamos. Raramente, um pouco mais.
Esse poema preenche minha reflexão sobre o 'percurso formativo' que tanto falam mas, poucas vezes é facilitado. Cecília Meireles, Poesia Completa. Tomo II. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 1455 - 56.