Lembra-te, meu amor, do objeto que encontramos Numa bela manhã radiante: Na curva de um atalho, entre calhaus e ramos, Uma carniça repugnante. As pernas para cima, qual mulher lasciva, A transpirara miasmas e humores, Eis que as abria desleixada e repulsiva, O ventre prenhe de livores. Ardia o sol naquela pútrida torpeza, Como a cozê-la em rubra pira E para o cêntuplo volver à Natureza Tudo o que ali ela reunira. E o céu olhava do alto a esplêndida carcaça Como uma flor a se entreabrir. O fedor era tal que sobre a relva escassa Chegaste quase a sucumbir. Zumbiam moscas sobre o ventre e, em alvoroço, Dali saíam negros bandos De larvas, a escorrer como um líquido grosso Por entre esses trapos nefandos. E tudo isso ia e vinha, ao modo de uma vaga, Que esguichava a borbulhar, Como se o corpo, a estremecer de forma vaga, Vivesse a se multiplicar. E esse mundo emitia uma bulha esquisita, Como vento ou água corrente, Ou grãos que em rítmica cadência alguém agita E à joeira deixa novamente. As formas fluíam como um sonho além da vista, Um frouxo esboço em agonia, Sobre a tela esquecida, e que conclui o artista Apenas de memória um dia. Por trás das rochas, irrequieta, uma cadela Em nós fixava o olho zangado, Aguardando o momento de reaver àquela Carniça abjeta o seu bocado. - Pois há de ser como essa coisa apodrecida, Essa medonha corrupção, Estrela de meus olhos, sol da minha vida, Tu, meu anjo e minha paixão! Sim! Tal serás um dia, ó deusa da beleza, Após a bênção derradeira, Quando, sob a erva e as florações da natureza, Tornares afinal à poeira. Então, querida, dize à carne que se arruína, Ao verme que te beija o rosto, Que eu preservarei a forma e a substância divina De meu amor já decomposto! Les Fleurs du mal,Charles Baudelaire(1857).
Desenho Traça a reta e a curva, a quebrada e a sinuosa Tudo é preciso. De tudo viverás. Cuida com exatidão da perpendicular e das paralelas perfeitas. Com apurado rigor. Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo, traçarás perspectivas, projetarás estruturas. Número, ritmo, distância, dimensão. Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória. Construirás os labirintos impermanentes que sucessivamente habitarás. Todos os dias estarás refazendo o teu desenho. Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida. E nem para o teu sepulcro terás a medida certa. Somos sempre um pouco menos do que pensávamos. Raramente, um pouco mais.
Esse poema preenche minha reflexão sobre o 'percurso formativo' que tanto falam mas, poucas vezes é facilitado. Cecília Meireles, Poesia Completa. Tomo II. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 1455 - 56.
Introspection - Que les eaux m’aident à m’épanouir au milieu de la douleur.
Yana Tupinambá, Flipbook and Gif 1/3 (2021).
Tigresa
Raízes vermelhas ( Akane 茜色)
Ayanami - nanquim, #0 2019
色の名前茜色
読み/綴りあかねいろ
系統色名dp-R(濃い赤)
マンセル値4R 3.5/11
webcolor#b7282d
RGBR(赤):183 G(緑):40 B(青):45
CMYKC(シアン):0 M(マゼンタ):90
Y(イエロー):70 K(ブラック):30
“Je ne crois pas à l’art dont l’expression n’est pas contrainte par le besoin qu’a l’homme d’ouvrir son coeur Tout art — littérature comme musique — doit être produit avec notre coeur sanguinolent — L’art est notre coeur sanguinolent”
— Edvard Munch, Carnet de croquis, 1890-1892
To be so adored
Part 5 of my (nsft) Halsin and Clover comic is on patreon 🌿✨
Prometer E não cumprir: Taí viver.
Millor Fernandes Veja mais em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa3110/millor-fernandes https://brasilescola.uol.com.br/literatura/haicai-um-poema-origem-japonesa.htm
Marilyn Monroe, Stanley Buchthal (Editor), Bernard Comment (Editor).
Os textos e poemas que compõe o livro são lindos, simples e muito sinceros. Escritos em prosa mostram a relação que Norma Jeane tinha com sua insegurança, medos, alegrias e trabalho. É estranho pensar que ela tenha tirado a própria vida enquanto fazia tantos planos para o futuro. Se em algum momento ela se entregou profundamente foi tentando se libertar da própria dor e do sofrimento que outras pessoas lhe causaram. Uma parte que considero bem atraente são suas listas, ela escrevia muitas com receitas, coisa à fazer ou notas sobre si mesma.
Fr note : Les textes et les poèmes qui composent le livre sont beaux, simples et très sincères. Écrits en prose, ils montrent la relation que Norma Jeane entretenait avec son insécurité, ses peurs, ses joies et son travail. Il est étrange de penser qu'elle s'est suicidée alors qu'elle faisait tant de projets d'avenir. Si elle s'est profondément abandonnée à un moment ou à un autre, c'est en essayant de se libérer de sa propre douleur et de la souffrance que d'autres personnes lui avaient causée. Une partie que je trouve très attrayante, ce sont listes, elle en a écrit beaucoup avec des recettes, des choses à faire ou des notes sur elle-même.
https://www.goodreads.com/book/show/9805234-fragments
Nos derradeiros meses de 2019 fiz um curso introdutório sobre criação de Histórias em Quadrinhos da ilustradora Thais Linhares que acontecia no Sesc. Entre uma aula e outra tive que inventar às pressas um desenho para expor junto às meninas do coletivo Voragem, faltava três dias para o que seria nossa primeira exposição na Casa da Cultura, e ainda, estava com dúvidas sobre qual trabalho incluir nesse projeto.
Após o fim de cada aula eu reunia alguns croquis, crônicas e velhas revistas com ensaios fotográficos das “femme sauvages” de Autum Sonnichsen entre outras referências. Enquanto escrevia o roteiro surgiu a primeira faísca daquela que viria ser (até o momento) minha única personagem que deixei cair no mundo, o nome dela é Diaurum.
Diaurum significa “onça-preta” em Tupi-Guarani, é um nome que me acompanha faz tempo. Guardei comigo até encontrar uma forma digna de recebê-lo e agora faz parte da minha história. Ela é dona de uma pele vermelha (realmente) “cor de jambo”, tem uma risada alta, uma elegância inata e olhos de gato. Diaurum se cobre com o cabelo da cor da noite, se sente muito confortável com seu corpo, chora até adormecer sob a luz da lua. Diaurum não se estremece diante do estranho, não se acovarda com injustiça. Eu a desenhei outras vezes em pequenos croquis, com versos bem simples, intitulados de capítulos I, II, III, mas nunca publicados. Penso nela igualzinha a Paraguaçu, porque traz consigo a "cor local" das primeiras terras.
A cor local na literatura é a descrição de elementos característicos de uma dada região ou do pitoresco de uma paisagem, particularidades dos costumes ou dialetos de certas comunidades. Não cabe nesse momento discutir profundamente o conceito mas, fiquem sabendo que no que diz respeito às personagens citadas aqui, sua cor local também representa paixões violentas, atos frenéticos e selvagem beleza.
Nesse ano tive um encontro com uma heroína de personalidade semelhante ao que havia imaginado entre 2019-2020, essa criatura é Carmen, a cigana astuciosa (romani) do escritor francês Prosper Mérimée, assim eternizada como a imagem da mulher cão. Existe uma peça do mesmo autor intitulada "Uma mulher é um diabo" ou "A tentação de Santo Antônio", é claro que esse título nos evoca a figura da femme fatale, uma personagem descrita no prefácio da obra como “cercada de humor e sedução”.
Por isso, e por outras referências que apresentam o uso da cor local, vou trazer mais vezes para esse espaço, além da Carmen, os demais contos e novelas do autor.
Essa novela me fez sonhar novamente com as mulheres de risada alta que espantam qualquer espírito sem luz, me divertir vendo a maneira como elas perturbam a paz de algum homem que se acha muito esperto.
Às vezes penso nelas chorando pra se curar depois de um dia ruim, ao mesmo tempo em que a chuva cai, penso nelas escrevendo cartas e diários sobre suas histórias. E no fim do dia elas correm para junto do mar. E se não tiver o mar tão perto, tudo bem, elas ainda têm o luar.
Uma mulher é um diabo,
Yi Ume.