Um espelho. Apenas um espelho. Como algo tão simples poderia ter qualquer significado? Matteo tentava processar a cena diante dele, mas nada fazia sentido. Seu caderno, o grupo ao seu redor, a cachoeira, aquela voz… tudo parecia uma realidade paralela, um sonho estranho do qual ele acordaria a qualquer instante. Ou melhor, um pesadelo. Mas por que, então, podia sentir a água fria escorrendo pelo corpo, o vento zunindo em seus ouvidos e a camisa encharcada aderindo ao peito? Seus sonhos nunca lhe pareciam assim tão reais.
Ainda assim, não podia ser verdade. Não podia deixar sua mente pregar essa peça nele. Se convencesse a si mesmo de que era tudo uma ilusão, talvez conseguisse afastar aquela sensação incômoda crescendo dentro de si. Matteo sentiu uma gota de suor percorrer a tênue linha da sua mandíbula, misturando-se à umidade do ambiente. Seu coração tamborilava contra as costelas com tanta força que ele jurava que todos podiam ouvir. Tentou ignorar. Tentou afastar a ideia absurda de que aquilo era real.
Se aquilo não passava de um delírio coletivo, por que continuava repetindo para si mesmo que não era verdade? Pensamentos intrusivos zuniam em sua mente como mosquitos incômodos, e ele lutava para dissipá-los. O mais lógico seria simplesmente dar meia-volta e ir embora. Fingir que nada daquilo aconteceu. Preferencialmente, nunca mais pisar naquele lugar e esquecer aquelas pessoas. Olhou de soslaio para o restante do grupo. Não formavam um conjunto harmonioso; na verdade, pareciam escolhidos por algum roteirista de tragédias com um senso de humor cruel. Era óbvio que estavam ali para entreter algum espectador invisível. Um alívio cômico, talvez. E a piada era ele.
Camilo, o primeiro a zombá-lo, obviamente. Esse sim, a maldição personificada. Matteo foi o primeiro a falar, mas agora se arrependia. Deveria ter permanecido calado, deveria ter ido embora sem receber o coice do mauricinho. Sentiu a raiva borbulhar em seu estômago e apertou os punhos. Por que ele precisava ser tão insuportável? Obviamente, Camilo nunca ouvirá um "não" em toda sua vida. Isso tornava ainda mais prazeroso ser a pessoa que lhe negava alguma coisa. Se fosse forçado a participar dessa palhaçada, ao menos poderia tirar um pouco de satisfação disso. Pequenos prazeres da vida. Mas se aquele homem fosse sua alma gêmea… Era melhor todos se prepararem para os próximos cem anos de puro caos.
Observou o homem ir embora, silenciosamente agradecendo por não ter perdido o pouco de paciência que lhe restava.
E então, Olivia. A escolha lógica. O destino mais previsível. Matteo sentiu os ombros enrijecerem. Eles tinham algo, não tinham? Algo que acabou tão dramaticamente quanto um acidente de carro em câmera lenta. Mas de forma muito mais silenciosa. Não poderia ter terminado de outro jeito. Matteo rangeu os dentes, afastando o pensamento. Nada daquilo importava. Não existia maldição.
Pasqualina. Graziella. Aaron. Helena. Christopher. E a novata…
Matteo tentava imaginar qualquer um deles como seu par romântico. Como almas gêmeas. Mas a ideia era risível. Ele nunca entendeu o amor. Para ele, era um conceito estrangeiro, algo que nunca lhe foi apresentado de forma verdadeira. Havia carinho por sua família, claro. Mas o carinho é uma obrigação, um dever. Nunca algo espontâneo, nunca algo livre. Se nem seus pais foram capazes de demonstrar amor, como poderiam esperar que ele o reconhecesse? Pior ainda: como poderiam esperar que ele o reproduzisse? Que se tornasse vulnerável a algo que nunca conheceu? Não. Era perda de tempo.
E ainda assim… parte dele queria que fosse verdade. Parte dele queria acreditar que algumas daquelas pessoas poderiam encontrar algo real. Porque, se o amor realmente existisse, então talvez houvesse esperança para ao menos alguns deles. Mas para Matteo? Não. O amor não estava em seu caminho. Era um conto de fadas para outros, não para ele. Estava muito melhor mantendo a cabeça baixa, focado em seu próprio caminho. Nunca mais deixando que o menosprezassem. Nunca mais sendo rebaixado. Nunca deixando que a vulnerabilidade o fizesse motivo de chacota novamente.
Com os pensamentos tumultuados, Matteo ignorou sua vespa largada na Casa Comune e seguiu a pé até em casa. Seus passos eram mecânicos, a mente perdida em suposições e dúvidas. A água ainda escorria de suas roupas, deixando rastros pelo caminho, mas ele não se importava. Ao chegar, deitou-se na cama sem tirar a roupa molhada, deixando que o lençol e o colchão absorvessem seu desalento. Fixou o olhar no teto, mas enxergava apenas o vazio. Seu coração ainda batia forte contra as costelas, resquício do medo, da raiva, da confusão.
Ele não compreendia a maldição. Mas sabia que, de alguma forma, ela já estava enraizada dentro dele. E isso era a pior parte.
( @khdpontos )
O prefeito de Khadel se sente honrado em ter [ MATTEO BIANCHI ] como morador de sua excêntrica cidadezinha. Aos seus [ 29 ] anos, ele é bastante conhecido pelos vizinhos como [ CROSSFITEIRO ]. Dizem que ele se parece com [ CHARLES MELTON ], mas é apenas um [ MODELO E INFLUENCER FITNESS ]. A ausência do amor em sua vida, deixou [ TEO ] um pouco [ EXIGENTE ] e [ EGOCÊNTRICO ], mas não lhe atormentou o suficiente para deixar de ser [ DETERMINADO] e [ LEAL ]. Esperamos que ele encontre a sua alma gêmea, quebre a maldição da cidade e consiga ser feliz!
triggers ─ menções de bullying, transtornos de aprendizagem e déficit de atenção
Giulia Bianchi queria mudar a vida da sua família. Mas um erro – ou talvez uma tentativa desesperada de sentir algo – mudou a dela primeiro. Nativa de Khadel, a maldição estava sempre presente, mas assim como sonhava em elevar o status social e financeiro da sua família, sonhava em; sentir algo como lia nos livros e via nos filmes. Claramente, a tentativa havia sido inútil. Qualquer faísca que pudesse ter achado que sentia na noite anterior havia se esvaído no amanhecer e, por sorte, o homem foi embora da cidade. Giulia, que também esperava que iria embora da cidade no começo do ano letivo para a universidade de Roma, foi pega de surpresa com os enjôos constantes, o cansaço excessivo, e não pode ignorar os sinais do iminente desastre nos seus planos.
Como todos na cidade, Matteo não era fruto do amor. Ele era uma inconveniência na história dos Bianchi. Por mais que Giulia tivesse decidido manter e cuidar do filho, não podia deixar de ser lembrada de tudo que não havia alcançado por conta da criança. Seus pais também haviam sido decepcionados pelo que acreditavam que seria o futuro brilhante da filha, mas os Bianchi acreditavam em cumprir o seu papel e assumir as consequências dos seus erros. Matteo era a consequência.
Nascido no ápice do inverno, Teo era um bebê adorável. Apesar de não ter sido exatamente desejado, não deixava de ser uma criança encantadora, com bochechas tão redondas quanto o restante do corpo, e a pele levemente mais escura que lembrava o pai, desaparecido da vida de Giulia. Ela até tentou procurá-lo nos primeiros meses, mas não teve muito sucesso, com a família toda dele indo para fora de Khadel. Por mais que a criança não fosse parecida com os Bianchi, ele seria puramente Bianchi por fim.
Logo nos primeiros anos de vida, Teo começou a mostrar sinais de desajustamento e dificuldade de aprendizagem. Demorou mais para andar e falar que outras crianças. Não mostrava os mesmos sinais de desenvolvimento nas idades corretas. Giulia não conseguia passar tanto tempo quanto deveria com o filho, precisando trabalhar em mais de um emprego para que pudessem ter o mínimo de conforto. Definitivamente não conseguia ir com tanta frequência aos terapeutas e psicólogos infantis indicados seu causar um déficit no orçamento deles por meses.
Já no primário, não conseguia ficar parado por muito tempo para a classe, sendo constantemente enviado para a diretoria. Logo, ficou alto demais para sua idade, com os braços parecendo pesados demais para o seu controle. As roupas surradas e normalmente num tamanho menor que ele não ajudava nada para que ele se ajustasse com os colegas. Crianças podem ser francas demais, no limite do malicioso, e os comentários maldosos nunca lhes foram poupados.
A cada ano que passava, as brincadeiras se tornavam cada vez mais maldosas. Por mais que Matteo se mantivesse calado, na dele, e sem perturbar ninguém além da sua mãe, que constantemente tinha que atender as reuniões relacionadas às suas dificuldades escolares, ele era um alvo fácil. Não revidava, escutava calado, e isso só fazia com que as outras crianças se aproveitassem mais.
Foi numa surra particularmente dolorosa aos quinze anos que fez com que Matteo se jogasse com tudo na academia. Havia começado porque ele queria se defender. Mas, à medida que ele começou a se exercitar, Matteo descobriu coisas que nunca tivera antes: disciplina, determinação e um propósito. Nunca havia sentido como se estivesse no mundo para fazer nada, nunca se sentiu bom em nada, mas, de repente, havia encontrado algo em que se sentia capaz. E, com o tempo, as mudanças na sua aparência física se tornavam visíveis, assim como a mudança de atitude dos outros em relação a ele.
Com isso, cada vez ele queria experimentar mais, ele queria ser melhor, mais desejado, mais bem tratado. Já não sabia se ele fazia isso porque desprezava os outros, ou porque desesperadamente precisava da aprovação dos outros. Talvez fosse culpa da maldição que não os deixasse sentir amor de verdade.
Ele foi encontrado pelas fotos e vídeos desengonçados de treino que postava e convidado a fazer alguns trabalhos de modelo, no final da adolescência. Um determinado ensaio que fez aos vinte e um anos se tornou viral, fazendo com que Matteo deixasse de ser um modelo qualquer para ser uma sensação da noite para o dia. Seu instagram explodiu e ele não sabia muito bem o que fazer, tendo que pedir ajuda de outros para conseguir administrar aquela nova vida.
Quem vê Matteo nas redes sociais encontra um modelo impecável, moldado à perfeição. Mas aqueles que ousam atravessar sua fachada cuidadosamente construída descobrem que a superfície é apenas um escudo — e que por trás dele há muito mais do que apenas um corpo esculpido. Aqueles que se atrevem a atravessar a fachada, são recebidos com uma assertividade mordaz que beira ao rude. Aos que são ainda mais atrevidos e decidem forçar o seu caminho para a vida dele, conhecem um lado muito diferente do egocêntrico narcisista que se importa apenas com a sua imagem física e descobrem um Matteo leal e dedicado, que só nunca aprendeu a confiar em alguém num nível profundo.
Foram sete anos. Matteo gostaria de pensar que ele não era a mesma pessoa que sete anos atrás, mas a sua mente ultra focada em um único objetivo poderia ter deixado ele tão alheio em outros assuntos, e assim não tendo evoluído tanto quanto imaginava ou gostaria. Não podia julgar todos que o consideravam um grande obtuso, porque se fosse honesto consigo mesmo, parecia que a única coisa aonde ele realmente fazia um progresso tangível era no tamanho do seu bíceps. Mas faria alguma diferença? Se desse abertura ou não as pessoas ao seu redor, tudo acabaria da mesma forma. Exatamente daquela forma em que se encontravam, reconectando após anos de um momento decisivo. Ao menos, como lidava com tudo aquilo lhe poupava da vergonha que estava sentindo naquele momento. Não parecia ter sido a intenção, mas não sentiu que a alfinetada havia sido menos mordaz pela falta de intenção. Às vezes as palavras poderia doer mesmo quando bem intencionadas, ainda mais quando eram verdadeiras. Afastar Olivia havia sido uma intenção deliberada, mas ao mesmo tempo um reflexo automático do sentimento de repulsa interno. Como ela, ele também não soube lidar com aquilo. Ousaria dizer que se sentisse aquilo naquele momento, continuaria sem saber lidar. Talvez não se escondesse, mas talvez sua resposta seria tão rudimentar quanto dava para todas as outras pessoas. Talvez se ele conseguisse tratá-la como qualquer outra pessoa seu desconforto seria apaziguado, afinal, Matteo não se importava com os outros. Mas se importava com Liv. "É..." Concordou, levando uma mão para trás da nuca num gesto de desconforto. Aquela conversa era certamente mais esmagadora que todos os cem kilos que podia levantar em um agachamento. As palavras que estavam engasgadas em sua garganta teimavam em não sair. Nunca havia sido bom com as palavras. "Eu também deveria ter ido conversar com você," Matteo não conseguia perceber se o som meio entrecortado era apenas um figmento da sua imaginação, que não conseguia consciliar com as palavras que saiam da sua boca ou se realmente soava esganiçado porque não acreditava que estava falando aquilo. Ou ainda pior, não conseguia falar aquelas palavras com facilidade. Nunca foi o seu forte. "Você acredita naquilo?" Matteo perguntou incisivamente, mesmo que deixasse o significado pairar entre eles. Falar exatamente sobre o que se referia talvez deixasse as coisas reais demais. Porém, deveria ser esse o motivo para que ela depois de tanto tempo voltasse a sua atmosfera, não era? Olivia e Matteo eram quase como água e óleo, mesmo que o feed curado do instagram pudesse fazê-los parecer almas gêmeas e as aparências físicas fosse significantes, eles eram muito diferentes. Ela era aberta e espontânea, poderia até ser uma fachada, mas Liv gostava da atenção. Enquanto para Matteo, a atenção era quase um fardo. Ele tinha que manter o interesse alheio para o seu próprio bem financeiro, mas como os outros testavam sua paciência. Mesmo com as suas respostas ríspidas ele não conseguia paz. Apesar de opostos, isso não queria dizer que não pudessem... ser algo. O que quer que aquele algo fosse. Ou foram. Ainda não sabia bem definir. Tudo havia sido infinitamente mais fácil quando eram um acordo de benefício mútuo.
Observou o gesto de Matteo – sempre no controle, sempre metódico. Mas agora, a Olivia que se encontrava diante dele não era mais a mesma, e ela sentia uma estranha mistura de nostalgia e frustração ao encará-lo. Ele continuava com a sua aparência imutável, mas havia algo nos seus olhos que ela reconhecia: o desconforto, a sensação de que ele estava tentando se esconder de alguma coisa, ou de alguém – neste caso, dela. Ela se forçou a desviar o olhar por um instante. Precisava encontrar palavras, mas elas estavam presas em sua garganta. O simples “é bom vê-la novamente” a atingiu de forma inesperada. Aquilo parecia tão... vazio. Por um momento, Olivia quase quis revidar. Dizer algo frio, como fazia com os outros, mas uma parte dela queria que fosse diferente agora. E ela pensou se ele estava esperando por isso. Olhou para ele novamente, com mais intensidade, buscando alguma resposta nas expressões contidas dele. “Então...?” Ele tentava puxar a conversa, mas parecia distante, desconectado, e isso a incomodava. Ela respirou fundo. “ Eu sei que não fui fácil de lidar. ” disse ela, as palavras saindo mais suaves do que imaginara, a voz baixa torcendo para que apenas ele pudesse ouvi-la. “ Aquela coisa toda, a mensagem fria e impessoal, o término... Eu deveria ter sido mais honesta com você. ” Não que ele tenha sido, também, ela pensou. Sentiu o peso das palavras, como se um peso tivesse sido tirado de seu peito. “ Acho que ambos fomos imaturos naquela época. Fui impulsiva, não pensei nas consequências, e você... foi distante, como sempre. ” Olivia baixou os olhos por um momento, observando os próprios dedos se entrelaçarem entre si. Um ato de nervosismo que não era comum vê-la reproduzindo, sempre tão autêntica e confiante. Não queria que sua vulnerabilidade transparecesse demais, então ergueu o rosto novamente. “ Eu sei que não foi certo, mas acredite, naquela época, eu não sabia o que fazer. Não sabia como lidar com tudo o que estava acontecendo dentro de mim. ” Ainda soava enigmática, incerta se deveria se abrir tanto com ele, ali em público, na primeira conversa, sem sequer saber se ele sentia o mesmo arrependimento por suas ações. Dessa vez, o seu olhar era firme, como a Olivia cheia de si que todos conheciam. “ Eu só queria que você soubesse que... eu lamento. Lamento como terminei tudo, lamento como agi. Eu não deveria ter feito aquilo, nem daquela forma. ” Havia uma sinceridade em suas palavras, um lado dela que não costumava deixar transparecer. E, céus, como ela torcia para que ele dissesse algo semelhante. Que também se arrependia de como respondeu àquela mensagem, que concordava que o término foi abrupto e, quem sabe, os dois não merecessem uma segunda chance.
Estava andando em direção à Casa Comune para pegar a vespa esquecida na noite fatídica. Ainda sentia que estava andando numa nuvem, assistindo uma versão da história do qual ele era um espectator e personagem principal de alguma forma estranha. Não sabia o que sentir ou o que fazer, apenas deixava que seus pés o guiasse enquanto a mente vagava. Talvez pudesse formar um plano. Talvez fosse ouvir a voz novamente, ou tivesse outro sinal de onde precisava ir... E, de certa forma, o teve quando mãos pequenas e suaves se fecharam sob o seu bíceps de forma ágil e antes que ele percebesse, estava sendo raptado de maneira incomum. Demorou um tempo para perceber quem era o autor de tal ato curioso. Gianna era o grande enigma da cidade. Era fácil apostar que ela podia ser a alma gêmea deles ─ isso é, se acreditasse na história da maldição. Ela era a única peça da qual eles não sabiam muito, então era fácil imaginar que ela se encaixava, muito mais do que pensar em qualquer um daqueles com quem havia passado por ele a vida inteira. Não deveria sentir algo tão forte por sua alma gêmea que deveria ter percebido se ela estivesse ao seu redor o tempo todo? Mas era impossível que a Gianna fosse a alma gêmea de todos, então era um castelo de cartas. Matteo abriu a boca para protestar, porque ele certamente não era o culpado de estarem na cachoeira, certamente não precisava pagar por nada, e estava tão perdido quanto ela em toda a história. Matteo adoraria conseguir entender toda aquela história, mas ele era apenas uma das peças do quebra-cabeça e, se dependesse dos outros, duvidava que iriam para qualquer lugar. Porém, notou que o teatro dela havia atraído mais olhares do que ele gostaria e toda aquela história já atraia mais atenção do que ele gostava. Ao contrário do que poderia parecer, influencer era apenas um título e um trabalho. Matteo preferia ser deixado em paz. Levantou uma sobrancelha, vendo a performance que ela parecia colocar não apenas para ele. "E o que exatamente você esperava?" Perguntou com uma leve curiosidade pela forrasteira enquanto seus olhos viajavam pelo local. Não ia ali há anos... Ele não podia comer nada naquele lugar. Seria péssimo para a sua rotina de treinos. Mas não ganharia nada discutindo com a mulher. E, dessa forma, poderia também matar alguma curiosidade que toda a cidade nutria pela novata.
❛ para : @thematteobianchi . ❛ ambientação : dolce freddo gelateria .
Havia uma regra silenciosa que Gianna estava seguindo à risca desde aquela noite inusitada compartilhada, que era intervir na vida dos que a acompanharam da maneira mais caótica possível. Mas, naquele momento, ela se via diante de um dilema. Os donos da Pensione haviam estendido um convite dos proprietários da Dolce Freddo, um encontro pensado para adoçar a tarde dela e de uma de suas possíveis almas gêmeas, porém sem tempo algum para elaborar uma maneira certa de tentar qualquer um dos nove, cogitou simplesmente aparecer sozinha e fingir que um deles a havia deixado esperando. A verdade era que, com os anos na Polizia – mesmo sem ter sido oficialmente parte da força –, ela havia aprendido a abdicar de quase todo açúcar como parte do condicionamento. Os treinos começaram logo em seguida, como algo que ela fazia às escondidas, mas logo se tornaram parte de sua rotina, uma chave que a inseriu no círculo dos oficiais. E seu paladar, antes inclinado ao doce, agora preferia o ácido – como seu humor, mas ainda assim, não poderia perder a oportunidade de provar o famoso gelato di mandarino, que prometia ser divino, nem as balas de lemoncella e mirtillo rosso, sabores que a transportavam diretamente à infância.
Sem outra opção se não seguir com o plano de se passar por uma alma sem par, rumou para a gelateria, o caminho já gravado em sua mente, quando, ao se aproximar da fachada repleta de cores suaves, mas chamativas, avistou Matteo Bianchi. E, como se uma lâmpada acendesse em sua mente, soube exatamente o que fazer. Das suas observações na cascata, Matteo parecia o patinho feio do grupo – e não no sentido literal, é claro. Pelo contrário, parecia que ela havia entrado para um seleto clube da beleza de Khadel naquela iniciação. Mas, diferente dos demais, ele se mantinha isolado, mais reticente até mesmo do que Aaron, embora corresse o rumor de que seu único contato mais próximo fosse com o tal lobo solitário – Gianna parecia ter quebrado aquela barreira rápido demais. O detalhe que a intrigava, além da apatia instigante, era a relação com a musa, um fato sussurrado por toda parte. Oh, sim, aquela era a oportunidade perfeita, seria um prazer contornar a disposição taciturna do influencer.
Cortando a distância entre eles com passos quase felinos, fechou ambas as palmas sobre o antebraço masculino e, sem cerimônia, puxou-o em direção à porta decorada. ⸺ Matteo Bianchi, pensei que ia me abandonar e me deixar desolada pela sua ausência . — dramatizou em um sussurro teatral, mais alto do que se falasse normalmente, contando com o elemento surpresa. Francamente? A Montalbano não se importava se ele protestasse, a atenção de toda Khadel já estava sobre eles, e aquilo precisava valer de alguma coisa. Aproximou-se, o tom ligeiramente mais baixo, apenas para que ele ouvisse. ⸺ Considere esse o seu pagamento por terem me arrastado para aquela cachoeira no meio da noite . — uma piscadela pontuou a frase antes que ela se afastasse o suficiente para ser socialmente aceitável ao passarem pelo limiar colorido. ⸺ Hm, wow, não era bem isso que eu estava esperando . — o olhar passeou pelo interior em genuína curiosidade e surpresa, a Freddo parecia um mini cenário saído direto de A Fantástica Fábrica de Chocolates, se ela fosse uma fábrica de gelati.
@khdpontos
com @sorrentinosmuse no banho de ervas aromáticas
Matteo se sentia atraído pelo evento de alguma forma. Talvez fosse relacionado a maldição que, agora, ele hesitantemente acreditava. Principalmente depois que ele foi até a cigana e agora ele não conseguiu mais se sentir confortável na sua pele ou olhar o seu reflexo no espelho. Talvez por acontecer na casa de Rose Von Bleicken, que ele se via voltando dia após dia. Talvez fosse porque ele não quisesse ficar dentro da própria casa, onde os espelhos estavam cuidadosamente cobertos. Ir na academia era uma pequena sessão de tortura, onde ele assistia o seu eu de quatorze anos levantando cento e quarenta kilos. Naquele evento, ele podia evitar tudo isso e cada dia parecia carregar uma nova surpresa para ele. Naquele dia, ele estava olhando os produtos à venda no L'Erbario di Gilda. Isso é — até Nonna Gilda aparecer com um som ultrasônico, "i miei amanti," ela disse, abrindo um braço para ele e outra para alguém atrás dele. Matteo olhou por cima do seu ombro, vendo a figura de Helena. Ele queria resmungar, audivelmente, mesmo que ele tenha até partido em bons termos com Helena. Ele não estava com disposição para a personalidade gigante dela. Mas parecia que eles estavam sendo arrastados já para dentro de algo que parecia uma tenda improvisada, com cheiros fortes. "A gente só tem que ser forte e aguentar um pouco," ele finalmente murmurou em direção a Helena.
@khdpontos
Ele soltou uma risada. Não esperava que Aaron tivesse qualquer senso de humor. Não que Matteo fosse conhecido pelo seu grande senso de humor, mas estava esperando mais um punhado de comentários ríspidos e sarcásticos. Pelos burburinhos, Aaron era tão conhecido por isso quanto ele era conhecido pela sua falta de vontade de conversar com os outros. "Pela diversão?" Perguntou com se não o entendesse, com uma sobrancelha levantada. "Eu estou aqui porque nosso amigo falou para eu o encontrar aqui. Eu não sabia que era um encontro." Talvez a sua resposta fosse muito defensiva, mas ele não queria que o outro ficasse pensando que ele estava indo para um encontro e, pior, com Nico. Tinha uma reputação para manter. "Eu acho que as forças cósmicas tem mais o que fazer do que decidir a minha vida amorosa," Matteo disse de forma resoluta, so contentando em dar uma resposta rasa. Com oub sem maldição, não acreditava que havia algo escrito nas estrelas, algum caminho que ele deveria seguir. Se existisse, alguém nesse universo devia odiar muito sua família, porque eles não podiam ter recebido uma mão pior para o jogo da vida. "O grupo de almas gêmeas? É mais capaz de termos sido assassinos e vítimas um do outro do que qualquer coisa romântica," comentou passageiramente, se rendendo ao copo de vinho em sua frente e tomando um gole. "Como você foi parar na cachoeira?" Perguntou.
Aaron soltou um riso curto, balançando a cabeça enquanto girava a taça de vinho que já tinha na mão. "Não, não diria isso." Levou a bebida aos lábios antes de continuar, a expressão carregada de ironia. "Mas, considerando que sua alternativa era o Nico, eu definitivamente sou um upgrade." Ele apoiou um cotovelo na mesa, observando Matteo com um interesse mais analítico agora. A cidade inteira estava obcecada com aquela história de almas gêmeas, e era interessante ver como cada um lidava com isso. Matteo, ao que parecia, estava tão cético quanto ele – o que tornava aquilo tudo um pouco mais suportável. "Mas já que tocamos no assunto," continuou, agora mais relaxado, "o que você acha dessa coisa toda? Vai fingir que não acredita e só está aqui pela diversão, ou já está começando a pensar que pode ter uma força cósmica decidindo sua vida amorosa?" A pergunta veio com um tom levemente provocativo e levemente julgador, mas sem pressão real. Apenas uma forma de medir a temperatura do encontro – e do próprio Matteo.
antes do evento﹔pós group chat
jardins da rose com @neslihvns
No fundo, Matteo sabia que era maluquice. Era difícil de acreditar em coisas como maldição, ou almas gêmeas, ou como aquela história se entrelaçava com eles de qualquer forma. E, dentre eles, claro que Neslihan seria a mais cética. Ela sempre foi muito lógica e tinha a mania irritante de estar sempre certa (normalmente estava), e ele duvidava que ela acreditaria em algo maior que ela em qualquer momento. Porém, o que ele não imaginava era ela utilizando dos mesmos argumentos que todo mundo jogava na cara dele — não ela. Ele não era a pessoa mais esperta do mundo, mas sabia muito bem quando zombavam dele. Era isso o que mais o incomodava. O fato dela ter jogado na conversa, tão casualmente, em frente a todo mundo.
Ele havia ido para um dos muitos lugares na cidade em homenagem à Rose. Ironicamente, era um lugar que ele ia muito com Neslihan quando mais jovens, e agora apesar do sentimento conflitante em relação à antiga amiga, ele ainda gostava de ir la para espairecer. Achou que estava sozinho no lugar, mas um farfalhar das folhas indicava que alguém estava saindo ou chegando (ou talvez se escondendo como ele adoraria fazer).
Matteo era, normalmente, o dobro do tamanho de uma pessoa comum. O seu corpo ocupava muito espaço e, se alguém tentasse lhe atravessar, provavelmente eles não teriam muito sucesso. Então, quando o estranho esbarrou com ele, seu corpo mal sofreu o impacto, mas ele sentiu o corpo da pessoa reverberar para trás. Estava pronto para pedir desculpas, mesmo não tendo sido sua culpa, mas ao ver quem era ficou astônito por um minuto. Nunca a via por lá e isso dizia muito porque Matteo vivia naquele lugar. Ele deu um passo para a lateral, Graziella deu um passo para a lateral. Ele deu um sorriso nervoso. "Bom dia, Graziella." Não existia muito entre eles, mas não era muito difícil para ele se sentir intimidado por Graziella, independente do seu tamanho. Não era nem mais o fato dela ter sido do mesmo grupo de pessoas que o atormentavam. Era apenas como ela se portava. E ainda mais agora com aquela história de alma gêmea. A ideia de um deles ser alma gêmea da Graziella, para ele, era intimidador. "Como foi a sua missão?" Acabou perguntando.
ONDE: CASA COMUNE
QUEM: GRAZIELLA & @thematteobianchi
Normalmente a mulher fazia seus exercícios dentro de sua própria casa e na academia exclusiva que tinha, mas naquele dia em específico havia resolvido fazer algo diferente. Já vestida para o treino, Graziella chegou ao estabelecimento com sua bolsa de academia em um dos ombros, os pés firmes em direção ao caminho que sabia que deveria ir, até mesmo passando pela recepção sem dizer nada. Ela só não esperava que alguém virasse e entrasse em seu caminho e trombar com o corpo que quase a derrubou no chão. Os olhos verdes por um segundo chegaram a se erguer na direção da pessoa com a intenção de matá-lo com o olhar, mas não precisou chegar muito longe para saber de quem se tratava e deu tempo da empresária suavizar levemente a expressão. "Desculpe, Matteo. Bom dia." Murmurou, tentando passar por ele para continuar seu caminho.
Matteo: Só de pegar os objetos que faz par... Não é perfeito, mas bem... Tem apenas quatro possibilidades, não é?
Olivia: Oi, chéri. Pior que não... você tem alguma ideia ou estratégia?
Starter fechado para @aaronblackwell
VINÍCOLA VILLA GIORDANO
Nico havia dito para encontrá-lo na Villa Giordano no fim da tarde, mas já se passaram dez minutos do horário acordado e nada do seu amigo aparecer. Normalmente, Matteo não bebia muito. O álcool era uma das piores coisas para a sua rotina de treinos, ou para sua mente afobada. Porém, nas atuais circunstâncias, uma taça de vinho, ou mesmo algo mais forte, não lhe soava mal. A pressão de atingir um nível de perfeição com sua aparência não chegava nem perto da pressão de encontrar uma alma gêmea.
Irritado que devia ter levado um bolo, Matteo tentou a última coisa possível e entrou no estabeleciment, se aproximando da hostess, "Oi," Matteo cumprimentou com brevidade, soltando o ar pesarosamente, "eu estou procurando Nico Cagni. Sabe se ele chegou?" A hostess olhou para o tablet com as reservas antes de falar para ele segui-la, levando-o para uma das mesas na parte externa.
Fazia muito tempo que Matteo não dividia intimidade com ninguém. E ele não falava de sexo. Ele sempre foi uma pessoa fechada, então o círculo de pessoas que realmente o conhecia era ínfimo e, para ele, parecia que quando alguém chegava muito perto, eles acabavam se afastando, de uma maneira ou outra. A situação era estranha. Exisia tanta familiaridade entre eles, ao mesmo tempo, Olivia havia crescido, e ele imaginava que outras mudanças haviam acontecido.
"Claro que significou, Olivia." Ele respondeu, soltando o ar. Não sabia como explicar toda a sensação do asco e mal-estar, ou sequer porque teve aquela reação. Na sua cabeça, era algum tipo de bloqueio ─ estavam perto demais de ser um casal de verdade e, por algum motivo, ele não podia aceitar isso. A história de maldição, por mais intrigante e curiosa que fosse, era difícil de aceitar. Uma força maior que pudesse controlar a sua vida, incluíndo a sua vida romântica, parecia mais ridículo do que aceitar sua parcela de culpa no ocorrido. Simplesmente não havia trabalhado o suficiente no relacionamento deles. Era jovem, tinha outras prioridades. Ele e Olivia estavam escalando para o topo de suas carreiras. Seria tolice que eles soubessem algo sobre amor aos vinte anos. Essas eram algumas das racionalizações que ele dava para ele mesmo. Matteo pegou o copo de vinho, usando-o como um escudo e uma distração, circulando o líquido dentro da taça antes de tomar um gole demorado. "Eu não sei o que dizer além disso, Liv. Como eu disse, a forma como aconteceu foi... estúpida. Mas talvez fosse inevitável." Talvez era para eles terem se separado e crescido separadamente, talvez destino existia daquela forma ─ certas coisas eram inevitáveis. "Talvez agora a gente só precise seguir em frente ao invés de ficar revivendo o passado."
Observou Matteo com atenção, absorvendo cada detalhe. O modo como ele suspirou antes de responder, o jeito que o sorriso veio antes das palavras, quase como um escudo. Ela já o tinha visto assim antes. Matteo sempre foi uma incógnita, um livro que parecia aberto, mas cujas páginas eram ilegíveis para quem não soubesse decifrá-lo. Só que Olivia sabia ler algumas partes. Talvez fosse uma das poucas que realmente sabia; ela gostava de acreditar nisso. E, mesmo assim, ele ainda conseguia surpreendê-la. Quando ouviu o "não", seco e definitivo, uma parte dela se preparou para mais. Matteo nunca foi de falar muito, mas aquilo não era o suficiente. E então veio a continuação, e Olivia precisou se segurar para não rir, não de deboche, mas porque, no fundo, aquela era a resposta mais Matteo possível. Olivia piscou, inclinando ligeiramente a cabeça. Admitia sua dificuldade em lidar com o 'não', afinal, o tivera por anos em sua vida até se tornar a musa de Khadel e as bajulações serem muito presentes em sua vida. Mas ela optou por não dizer nada. Deixou que ele continuasse, observando como ele mantinha os olhos baixos, fixos no ponto onde suas mãos se encontravam. Olivia continuou o carinho gentil com o polegar alisando os dedos da mão masculina.
O silêncio entre eles não era desconfortável. Nunca foi. Os dois aprenderam a se compreender na ausência de conversa, mesmo quando discordavam, mesmo depois de tantos anos afastados. O calor da pele dele contra a dela era familiar, e Olivia se pegou apertando um pouco mais os dedos, quase inconscientemente, como se quisesse que ele lembrasse que ainda estavam ali. Que aquilo ainda podia existir. Então veio a acusação, ainda que sem julgamento, e ela arqueou as sobrancelhas. Andando em círculos? Talvez. Mas Matteo sempre foi mais direto, mais prático. Olivia, por outro lado, gostava dos caminhos sinuosos, os joguinhos de palavras, a manipulação. As entrelinhas eram sua zona de conforto. Mas ali não era sobre conforto. Não quando se estava confrontando o único rapaz por quem chegou perto de desenvolver sentimentos verdadeiros de paixão. Ela respirou fundo quando ele finalmente admitiu, pronta para a sua vez. Ele não queria estar ali, não por causa dela, mas porque toda aquela situação era desconfortável, e apesar de fingir muito bem com aquele sorriso no rosto e a postura elegante, ela concordava.
Olivia não levou para o lado pessoal. Sabia que ele não dizia aquilo para magoá-la, sabia que Matteo odiava falar sobre sentimentos, sobre qualquer coisa que o tirasse da segurança do seu silêncio. A confissão veio baixa, mas definitiva. E a mulher sentiu o peso dela se acomodar entre os dois. Não sorriu dessa vez. Não havia ironia, não havia provocação. Apenas olhou para ele, sentindo algo se remexer dentro de si. Algo que ela ainda não sabia nomear. — Bem, minha vez de admitir, então. Eu não deveria ter terminado daquela forma. Eu fui imatura, egoísta e não soube lidar com o que estava sentindo. — Sem mais detalhes. Talvez fosse doloroso ouvir que ela sentiu um asco repentino por ele, ao ponto de não conseguir vê-lo sequer para colocar um ponto final no relacionamento. Ela sabia que se ouvisse dele, ficaria magoada. Pior! Se ele não tivesse sentido, significou que naquela noite em que ela quase se apaixonou por ele, o sentimento não havia sido retribuído. Ela não sabia qual resposta era pior de ouvir. — Eu não deveria ter feito isso porque... — Ela bufou, sem saber como pôr em palavras sem se expor demais antes de ouvir a versão dele. — Lembra-se da noite dois dias antes da mensagem de término? Ela foi tão especial para você quanto foi para mim? — E o coração quase parou enquanto a tortura da espera pela resposta a cortava por dentro.
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