— Sorry Not Sorry @greatloverx
Kyungmi prendeu a máscara com um grampo, garantindo que ela não escorregaria do rosto sob nenhuma circunstância. Quem a visse de longe poderia facilmente pensar que estava bêbada, dada a maneira animada com que dançava com os amigos, mas a verdade é que ela mal tinha começado. Conhecida por sua resistência anormal ao álcool, o que começou com uma taça logo virou seis… e já estava a caminho da oitava.
Havia feito amizade com algumas pessoas enquanto tomava um ar e bebia algo, e agora dançavam como se fossem amigos de infância — brincando, descendo até o chão e encenando partes das músicas.
Estava prestes a pegar o microfone para finalmente pedir a música que o grupo havia escolhido quando pisou com força demais… direto no pé de alguém. O dono da taça soltou a bebida no ar. Com reflexos invejáveis, Kyungmi conseguiu agarrar o copo antes que ele tocasse o chão. O problema? O líquido já tinha voado de forma dramática — e, para seu azar, aterrissou diretamente em um cara que passava.
Ela ficou boquiaberta por um momento antes de soltar uma risada divertida. Tinha acontecido em câmera lenta, como numa cena de filme.
— Foi mal, foi mal mesmo... Mas, olha, a culpa foi sua por se teletransportar bem na direção da bebida. — Com um sorrisinho amigável, ela se desculpou também com o dono da taça, que apenas assentiu antes de ir embora.
Já ia seguir seu caminho, mas, de última hora, parou, virou-se e apontou para o rapaz que agora ostentava uma mancha de bebida na roupa.
— Oppa, quer fazer algo para mim? Vai lá pedir pra colocar para tocar Sugar Free!
Kyungmi não estava tentando entender a lógica do homem à sua frente, que insistia em perguntar o óbvio! Ela o encarou com espanto e fez um gesto exagerado, como se explicasse a situação para a criancinha do bairro. Quase caiu na risada ao pensar em algo completamente ridículo, mas se concentrou e exemplificou com o dedo.
— Primeiro: está vendo esse salto finíssimo? — disse, levantando o dedo indicador e o pé. — Segundo: está vendo aquela escada? — Apontou com cara de “presta atenção, criatura” para a escada cheia de furinhos. — Agora imagina meu salto entrando num daqueles buracos…
Ela arregalou os olhos, genuinamente espantada com a situação imaginária. Voltou o rosto para o homem, que parecia se divertir abertamente com o drama. Ela se importava? Nem um pouco. Seu objetivo era claro: conseguiria aquela música sim ou sim!
— Que horror! Pensando bem… eu posso morrer se subir naquela escada! — exclamou, levando a mão ao peito em um ato dramático, como se tivesse tido um ataque. — Imagina se eu caio… escafedeu tudo! Fim trágico. Eu viro estatística! Vou de comes e bebes!
Em seu último ato melodramático, bateu as mãos enluvadas, como se encerrasse um grande debate.
— Por isso, Sr. Brilhante, você vai pedir para tocarem Sugar Free pra mim, e vamos dançar — disse ela, já o empurrando para subir a escadinha.
Haesoo piscou várias vezes tentando processar o que ela tinha dito, não acreditando que ela tinha insultado a sua roupa assim gratuitamente — e a sua roupa nem era tão brilhante assim —, como também tinha insultado o gosto das suas irmãs. Sabe quando se fica sem saber o que falar ou fazer? Era como Haesoo estava no momento.
A sorte da mulher é que Haesoo sempre foi uma pessoa mais paciente, pois ele não tinha certeza como outro alfa poderia reagir com esse jeito dela de falar, mas não achava que seria algo positivo. A única coisa que não estava esperando era ela oferecer para ajudar a escolher as suas roupas numa próxima, o que quase o fez rir, mas se segurou.
— Você primeiro morde pra depois assoprar? — perguntou, se recusando a rir, mas suavizando a expressão e acompanhando com o olhar quando ela pegou em seu braço e começou a puxá-lo.
Claro que poderia a parar facilmente, mas agora estava curioso para saber onde que tudo isso ia dar. De qualquer forma, estava quase indo para casa antes, pelo menos agora tinha algum entretenimento, mesmo que esse fosse uma mulher meio... diferente, que nesse momento estava levando o salto para ele olhar.
— Muitas coisas ruins, é? — perguntou rindo, nem se segurando mais. — Mas por que raios você precisa de mim pra pedir uma música?
Kyungmi estava dando uma voltinha pela praia, aproveitando para beliscar umas comidinhas das barraquinhas espalhadas por ali. As mãos estavam cheias de guloseimas, copos e guardanapos, então decidiu deixar tudo cuidadosamente na areia por um momento para buscar uma sacolinha numa das tendas — como tinha visto algumas pessoas fazendo — e poder jogar o lixo fora do jeito certo.
Mas antes que pudesse dar dois passos, algo — ou melhor, alguém — chamou sua atenção.
Um cara estava falando com ela?
Ela franziu o cenho, sem entender direito, e colocou as mãos na cintura. Espera... ele estava chamando ela de suja? Sugerindo que ela jogava lixo na praia? Quer dizer... tecnicamente ela tinha jogado as coisas no chão, mas só por um segundo! Ela ia pegar uma sacola! Ela só tinha duas mãos!
— Você tá me chamando de suja? Esse lixo aqui nem é meu! — respondeu na defensiva, já abaixando para pegar tudo de volta nos braços e, com um leve exagero dramático, enfiando tudo na lixeira que ele segurava.
Depois disso, limpou as mãos e encarou o cara com os olhos bem arregalados.
— Eu gosto de tartarugas, sabia? Jamais jogaria lixo na praia! E também gosto de pinguins! Uma pena que eles não se acasalam por aqui, queria muito ver um pinguim passeando por essa areia. Enfim, eu juro que não tava largando nada à toa. Tá bom, tecnicamente tava, mas eu ia pegar depois! E você me acusou com uma piscadinha! Isso não se faz, cara-senhor. — Voltou a pôr as mãos na cintura, no clássico modo “lição de moral ativado”. — Às vezes a pessoa só tá com as mãos ocupadas, sabe?
Fez uma pausa dramática e então suavizou o olhar, respirando fundo.
— Enfim... quer ajuda? Posso ajudar?
it's time for a closed starter !
with @talktomi
Um dos problemas relacionados a sujeira da praia vinha de um mal que todo país sofre: turistas. É como se eles achassem de fato que alguém não deveria incomodar as suas férias, isso inclui quem limpa a praia. Sempre que os pais faziam ele ir até lá catar o lixo deixado para trás, é o momento que o surfista entende os vários avisos espalhados pela praia e o porquê daquilo existir. “Isso aqui é uma bagunça” Reclamou em voz alta o suficiente para que um grupo de pessoas ali pudesse ouvir. “Todo dia a gente tem que limpar a sujeira dessa galera, que age como se estivesse na casa deles” E depois de falar, se virou de costas para poder dar uma risadinha, sendo o momento que viu a mulher, dando um sorrisinho para ela e uma piscadela. “Não que eu não reclame disso todos os dias, mas as vezes é bom dá um toque pra quem ainda pode fazer diferente, certo?”
Kyungmi odiava ter que ir à lavanderia. Ela simplesmente não nasceu pra esse tipo de vida, de jeito nenhum! Era sempre um caos: esquecia as próprias roupas, pegava as dos outros sem querer, e o pior — sempre tinha alguém querendo puxar papo justo quando ela estava com os fones no último volume, ouvindo Roxette como se fosse trilha sonora de um clipe esquisito. Por isso, decidiu ir num horário mais vazio. Apesar de ser extrovertida, Kyungmi também era um poço de contradição — tão introvertida quanto falante, dependendo do dia.
Enquanto esperava, ficou mexendo no seu velho MP4, até que resolveu pegar o Kindle e tentar ler alguma coisa. O livro era chato. Os protagonistas eram tão sem graça que ela quase torceu para algum deles morrer só pra ver se animava. Mas era o único livro que tinha, e reler os outros pela milésima vez estava fora de cogitação. Infelizmente, o cartão de crédito já tinha sido cancelado, então nem pensar em comprar um novo e muito menos assinar um plano. Só de lembrar disso, seu humor azedou. Fechou o Kindle com força e começou a andar pela lavanderia, cantarolando. Foi quando viu um cara mexendo nas calcinhas dela.
— Hey! Seu tarado! Larga aí minhas calcinhas! — berrou, dando um tapão nas costas largas dele, quase fazendo o MP4 voar da mão. Prioridades. — Xiiiii... xispa! Minhas calcinhas! Nem te servem, cara! Vai errabentar tudo, alargar o elástico, estragar o babado!
Tomou posse da cesta com dignidade ferida e ainda ameaçou dar mais uns tapas. Só que, no calor do momento, o fio do fone enroscou em alguma coisa, e a cesta caiu no chão. Lingeries espalhadas. A de babadinho. A calcinha de vó. Suas saias. E, como se não bastasse, aquela camisola ridícula que tinha a frase: “Yes, I'm slick. No, you can't touch”
Misericórdia. Até aquela tinha levado. Uma peça comprada por meme e pura zoeira — agora exposta ao julgamento alheio. Quis desfalecer ali mesmo, mas não era fraca. Ia sustentar.
Com uma expressão séria, tirou o fone (milagre que ainda estava pendurado em uma orelha) e encarou o homem de cima a baixo, avaliando com um olhar bem crítico.
— Olha só… por mais que eu seja boazinha e até empreste roupa de vez em quando, eu realmente acho que meu sutiã não vai caber em você — gesticulou com as mãos, feito um crítico da moda. — Por mais que você tenha uns peitões aí, acho que não rola nas costas. E essa camisola aqui? Não combina com a cor dos seus olhos. Aquela calcinha ali tá furada… ia pegar mal. E essa peça que você tá segurando? Definitivamente não te serve. Vai rasgar.
@talktomi reagiu 🧦 para um starter !!
Chanhyuk precisava comprar uma lava e seca urgentemente, mas enquanto isso não acontecia, a única lavanderia autosserviço do bairro teria que servir. Pra evitar fila e mais demora que o habitual, ele juntou toda a roupa suja dos últimos três dias e esperou passar das dez da noite pra sair de casa, com a esperança de que voltaria antes da madrugada.
Não tinha quase ninguém lá dentro mesmo, como esperado, quando a porta de entrada fez aquele barulho automático de seja bem vindo! e o ar condicionado gelado o atingiu em cheio. Com a disposição e elegância de quem tinha passado o dia inteiro em pé, mais de dez horas andando de lá pra cá atendendo clientes, Chanhyuk enrolou tudo na mão e socou a massaroca de roupa na primeira máquina disponível que viu pela frente. Isso, e porque as suas roupas cheiravam… Bom. Ao seu cheiro natural. Ele queria evitar ficar desfilando com elas debaixo do braço e acabar com alguém o reconhecendo, por mais mínimas que fossem as chances.
O processo a partir daí foi meio que tedioso. Chanhyuk arranjou um canto pra se sentar, puxou o celular, ficou rolando os reels do instagram até os olhos começarem a arder. Só se levantou quando a máquina apitou, e mesmo assim continuou com o nariz enfiado na tela, distraído. Jogou a pilha limpa de volta numa cesta e finalmente encarou, decidido ao último esforço da noite, de dobrá-las num padrão minimamente reconhecível antes de ir embora.
O que o encarou de volta com certeza não era seu. Tinha tanta cor, o seu cérebro cansado demorou pra processar a informação. Os seus dedos pinçaram uma saia, ou a faixa de tecido que ele supôs ser uma saia, e a ergueram no ar pra analisar mais de perto, enquanto as suas orelhas coloriram instantaneamente num cor-de-rosa ardido. Chanhyuk ficou um minuto inteiro travado igual tela azul, depois voou pra trás por instinto, como se tivesse enfiado a mão no fogo. A saia saiu voando também. Uma mortificação horrorosa se instalou no fundo do seu estômago.
“Isso é seu?!” Ele se escutou perguntar, numa vozinha quebrada, pra única dona possível das roupas. Quer dizer, Chanhyuk só poderia assumir, considerando o pedaço não identificado de renda que ficou enroscado na cesta. Os seus olhos retraíram rápido da imagem. Puta que pariu. Que um buraco abrisse do chão e o engolisse direto pro último círculo do inferno.
Os olhos de Kyungmi se semicerraram automaticamente ao ouvir o tom manso do cara, mas por dentro, ela escondia um sorrisinho travesso de quem sabia que tinha virado o jogo a seu favor. Caminhou com os filhotes nos braços e os colocou com todo o cuidado na caminha preparada para que pudessem dormir junto aos outros. Eram tão fofinhos que Kyungmi não queria deixá-los ali, mas precisava. Assim que soltou os bichinhos, sentiu os braços frios, vazios… e um vazio ainda mais triste por dentro. Um suspiro escapou de seus lábios. Ela queria tanto, tanto, tanto um cachorrinho.
Seus pensamentos de lamento foram interrompidos por um comentário alto e cheio de força do cara ao seu lado. Kyungmi revirou os olhos — é claro que ele não ia conseguir abrir a porta, tinha uma placa avisando isso mais cedo. “E que os Deuses a tenham muito bem escondida, amém,” pensou. Mas então veio o estrondo. Esse, sim, a assustou de verdade.
— Quinze minutos? Tudo isso?! — se lamentou, indignada, como se o mundo estivesse acabando. — Pelo menos posso ficar mais tempo com essas fofurinhas. Eles são tão lindinhos, quentinhos, engraçadinhos… Ahhh, queria tanto um...
Ela respondeu mesmo sem ninguém ter perguntado nada.
— Ah, eu? Hmm… vim sozinha, sim! Não conheço muita gente na cidade ainda. — abriu um sorriso e o lançou ao homem. — Você trabalha aqui? Ouvi você comentando algo sobre um concerto...
Kyungmi então gesticulou com a mão em direção à porta trancada e depois voltou o olhar para ele, inclinando levemente a cabeça, curiosa.
— Acho que você tem cara de quem trabalha aqui. Ou talvez estude? Eu vi num cartaz que rolam vários eventos por aqui. Qual será o próximo? — Perguntou animada, já interessada em descobrir qual seria o próximo evento da universidade no qual poderia se enfiar.
A primeira coisa que veio em sua mente foi uma daqueles desenhos animados com um avestruz enfiando a cabeça na terra. Ele desejou muito algo parecido com a resposta dela. Yoonhak se fez visivelmente constrangido, desviando o olhar e devolvendo o peso das garrafas para o chão. Pedir desculpas adiantaria alguma coisa ou a deixaria sem graça também?
“Os cachorrinhos estão ali.” Ele soou menos antipático dessa vez; manso até. Yoonhak apontou para que ela deixasse os filhotinhos que julgou tê-la levado até ali, em primeiro lugar. Esperou ela dar espaço para também tentar forçar a porta, mas como haviam avisado: só abriria por fora. “Isso não faz o menor sentido.” Foi sua conclusão e um comentário mais alto. “Já deviam ter consertado isso há semanas.” Acrescentou, seguido de um baque frustrado com a lateral do punho cerrado contra a madeira.
“Bom.” Yoonhak se voltou para a garota, coçou atrás da orelha e caminhou até o cercadinho, se agachando e passando os dedos pela grade para acariciar a cabecinha de único filhotinho preto da ninhada. “Acho que temos uns, sei lá, quinze minutos antes de acabarem mesmo com as garrafas d’água lá fora.” Chutou. “Sinto muito por isso. Veio sozinha?”
Kyungmi estava empolgada para descobrir para onde Sunbin a estava levando. Tudo indicava que iriam ver o pôr do sol, e só essa possibilidade já a fazia vibrar de animação. Ela adorava apreciar paisagens bonitas, e era ainda melhor quando podia compartilhar o momento com alguém. Enlaçou o braço no da outra mulher, exibindo um sorriso enorme e genuinamente contente. — Outro universo? Agora você me deixou curiosa! Deve ser tão lindo… Acho que vou me apaixonar na hora — declarou, cheia de entusiasmo. — Você vem aqui sempre?
˛⠀⠀⋆⠀ㅤstarter fechado com @talktomi no parque costeiro de yongso
sunbin estava animada — o que, por consequência natural do universo, significava que ela estava ainda mais falante do que o normal. as palavras escapavam sem freio, acompanhadas de sorrisos, gestos empolgados e o brilho nos olhos. quando reconheceu kyungmi perto do pier, não hesitou em puxar assunto até que a ideia surgiu. ❝ você quer ver algo maravilhoso? ❞ perguntou, já tomando a frente e guiando a moça por entre os passantes. o céu começava a se tingir de dourado, e o vento carregava o cheiro salgado do mar, levantando a barra do vestido de sunbin enquanto ela descia as escadas do pier com cuidado, olhando por cima do ombro para se certificar de que kyungmi a seguia. ❝ vem, é logo ali ❞ pontou para um dos barcos tradicionais atracados ❝ você já fez esse passeio? é uma das melhores visões do pôr do sol ❞ explicou, com um sorriso suave agora ❝ a luz reflete no mar e fica simplesmente mágico. parece... outro universo ❞
Era sábado e Kyungmi não tinha muito o que fazer pela manhã, então decidiu caminhar pelos Jardins Hwan, um lugar calmo, familiar, onde ela podia pensar. E ela precisava pensar. Todas as lâmpadas da casa haviam queimado. Sim, todas. E o pior: ela tinha acabado de trocá-las. Um lote inteiro de lâmpadas bichadas. Agora estava sem luz. Tendo luz. Mas sem luz.
Suspirou, levantou os braços para o céu como quem implora uma trégua ao universo.
E foi exatamente nesse momento que levou um empurrão forte o bastante para fazê-la girar e quase cair.
Não. Isso já era demais. Era essa a resposta do universo? Que universo mesquinho! Kyungmi ficou vermelha de raiva. O cara simplesmente esbarrou nela no meio do momento dela com o cosmos — e o pior: nem pediu desculpas direito.
— Yaaa! Seu escroto! Quase me matou! — ela gritou, com os olhos marejando de raiva, e ainda fez questão de mostrar o dedo do meio enquanto recuperava o equilíbrio e a dignidade.
A comida estava tão gostosa! Kyungmi chegou a considerar abrir discretamente o botão da calça só para dar uma trégua à barriga feliz. Como não sabia cozinhar, aquele era o seu restaurante favorito, o sabor era caseiro, acolhedor, quase mágico. Ela se sentia no paraíso. Um paraíso que, infelizmente, precisava dividir com outros clientes.
Ainda sorrindo, saía do restaurante quando quase trombou com alguém na porta. Um homem.
— Ah... me desculp- — começou a dizer, mas parou no final, apertando os lábios com os dedos. — Retiro minhas desculpas.
E saiu andando com a cabeça erguida. Quase voltou só para pisar no pé dele com força, mas decidiu manter a classe. Porque claro... era ele. O mesmo cara que havia esbarrado nela nos Jardins Hwan e nem teve a decência de se desculpar.
Fala sério.
Kyungmi adorava terminar o dia assistindo todos os filmes de Jurassic World. Era completamente apaixonada por aqueles dinossauros nada fiéis à ciência, e adorava justamente por isso. Naquele dia, foi ao mercado buscar suas besteirinhas de sempre. Pegou um carrinho, pensando que talvez ainda desse tempo de emendar com uma maratona de comédias românticas. Ela estava doida para rever A Proposta.
Enquanto andava pelo corredor das pipocas de micro-ondas, ajeitava as caixas de nuggets no carrinho quando sentiu um impacto repentino. Bateu carrinho com carrinho. Ela ergueu o rosto... e ficou perplexa. "Ah, fala sério", pensou, revirando os olhos.
Só podia ser brincadeira. Era ele. O mesmo cara do restaurante. O mesmo dos Jardins Hwan. E, para piorar, ele ainda estava sorrindo pra ela.
— Olha, tem certeza de que não está me seguindo? — ela estreitou os olhos, desconfiada. — E em nenhuma das vezes me pediu desculpas. Já reparou? Se eu fosse você, tirava esse sorriso bonito do rosto.
Sim, aquilo era bizarramente específico. O universo claramente estava pregando uma peça. Ela sentia. Teve até vontade de passar o carrinho em cima do pé dele... mas, infelizmente, pela posição em que estavam, não daria.
Ela soltou um suspiro e o encarou novamente.
— Já que é a terceira vez que a gente se esbarra... será que eu tenho direito a um pedido? — perguntou com um olhar arregalado de falsa inocência, piscando os cílios com delicadeza.
É alguma piada do destino? — @talktomi Starter fechado.
Haesoo tinha tirado o sábado para tentar espairecer a mente do trabalho, resolvendo então não ficar apenas em casa, mas sim sair para fazer algumas coisas, ver pessoas, respirar um ar, ver cores vivas... coisas do tipo.
A primeira coisa que resolveu fazer foi sair para passear com seu cachorro, prendendo bem ele na coleira, pois ele ficava muito entusiasmado quando encontrava outros cachorros na rua. Foi para os Jardins Hwan com ele e se preparou para gastar toda a sua energia — essa que nem tinha muita — com as brincadeiras. Estava dando risada e competindo uma mini corrida com Namoo quando esbarrou em uma pessoa, quase levando ela com tudo para o chão, não tendo nem tempo de se desculpar adequadamente, pois a guia de Namoo se soltou de sua mão e ele saiu em disparada pelo parque.
— Desculpa, desculpa, desculpa...! — pediu para a mulher que tinha quase derrubado no chão, saindo correndo atrás de Namoo em seguida. Por sorte não teve muita dificuldade de conseguir pegar a guia da coleira dele novamente, o fazendo parar de correr. Depois desse incidente resolveu voltar para casa.
Quando Haesoo saiu novamente foi para almoçar fora, tinha ficado com preguiça de cozinhar e resolveu então comer em um restaurante. Tinha decidido ir em um de comida caseira, mais familiar, e tinha sido uma ótima ideia. A comida estava maravilhosa, mas Haesoo esperava qualquer coisa, menos encontrar a mesma mulher do parque no restaurante. E o pior, parecia que ela tinha o reconhecido pela cara que fez quando o olhou. Para a sua sorte, se encontraram apenas quando estava indo embora, assim não tendo nem tempo dela sequer pensar em falar algo. Que azar!
E por fim, no finalzinho da tarde, quando Haesoo resolveu sair novamente, dessa vez foi para passar no mercado. Agora estava com vontade de fazer alguma comida gostosa para a janta, diferentemente do almoço que tinha ficado com preguiça. Só que precisava comprar mais algumas coisas para que fizesse a receita que tinha em mente.
Estava andando pelo mercado com o carrinho de compras, passando pelos corredores com toda a calma do mundo. Não estava com pressa, sinceramente. Achava até terapêutico fazer compras em mercados. Então estava bem distraído olhando as coisas nas prateleiras com calma, quando o seu carrinho se chocou contra o carrinho de outra pessoa. Quando desviou o seu olhar para ver quem era, não conseguiu acreditar... era a mesma mulher do parque e do restaurante. Isso era alguma piada do destino?
A primeira coisa que Haesoo pensou em falar foi:
— Eu juro que não estou te seguindo… mas esse já é o terceiro lugar em que a gente se esbarra hoje — comentou, abrindo um sorriso sem graça. — Bizarro, né? — comentou, repassando na sua cabeça novamente a cena em que quase derrubou ela no chão de manhã.
Apesar de ter uma rotina corrida e quase nunca sentir vontade de sair de casa, desde que chegou em Jeju, Kyungmi vinha se permitindo algumas aventuras. Lembrava de ter passado em frente a uma loja de música e, como boa sonhadora que era, entrou decidida: queria um baixo! Queria ser uma rockstar, pelo menos naquela tarde, e tocar todas as músicas da sua playlist "bajo bien bastardo".
Com um sorriso sonhador, piscou os olhos ao sair do devaneio e começou a dedilhar qualquer coisa que lhe vinha à cabeça — tudo completamente errado, mas ela não ligava. Não até Jae chamar sua atenção com aquele drama típico dele. Kyungmi revirou os olhos, negando com a cabeça, e ainda tocou mais algumas teclas só para provocá-lo, antes de cair na gargalhada. Foi então que aproveitou a deixa perfeita para imitar suas falas com ar teatral:
— Achocolatado? Por acaso você se esqueceu do que te ensinei sobre minha alergia a leite? — Era injusto, ela sabia. Mas também? Não se importava nem um pouco. Sabia que ele era um alfa... e aí mesmo que não ligava. Abriu um sorrisinho e sacudiu a cabeça. — Está querendo me matar lentamente com carinho? Tem refrigerante de morango? Ou de abacaxi? Talvez um suco de melão?
Enquanto ele decidia a bebida, Kyungmi voltou para o piano e tentou tocar “Someone Like You” da Adele — uma versão bem sofrida, diga-se de passagem. Mas pelo menos a voz dela compensava o desastre nas teclas.
⋆ㅤ⠀›ㅤ⠀starter fechado com @talktomi na loja de instrumentos
era engraçado como algumas conexões simplesmente aconteciam. a primeira vez que kyungmi entrou na loja tinha sido por acaso. ela entrou parecendo meio deslocada, como se tivesse tropeçado ali por engano. falaram sobre música, ele comentou algo sobre os tons de uma música que tocava no rádio da loja, e quando viu, já estava mostrando umas notas no piano. desde então, kyungmi aparecia de tempos em tempos, e jae — bem, jae começou a separar alguns minutos do dia pra ensinar uma coisa ou outra. especialmente no piano e no baixo. nada formal, nada forçado. mas naquela tarde… jae piscou, incrédulo, os ouvidos meio ofendidos com o massacre que ela acabara de fazer em cima de uma sequência simples. ❝ você esqueceu o que eu te ensinei? ❞ o tom era meio teatral, como se o coração dele tivesse acabado de partir. ele levantou dramaticamente do banquinho, caminhando em direção ao frigobar atrás do balcão. abriu a portinha e olhou pra dentro, procurando como se estivesse diante de uma grande decisão. ❝ refrigerante ou achocolatado? ❞ virou-se com as duas opções na mão, erguendo uma em cada lado.
Ainda com os olhos arregalados, Kyungmi encarava o homem como se fosse capaz de cortá-lo em pedacinhos só com o olhar. Seus olhos brilharam em puro deleite ao vê-lo se encolher de dor, e quase riu, não por maldade, mas porque estava nervosa demais pra lidar direito com suas reações.
— Não sei se existe isso de perseguir alguém sem maldade. — Arqueou a sobrancelha, totalmente incrédula, e levantou a mão fechada em punho, ameaçando de novo. — E fica aí mesmo! — Estreitou os olhos, firme, esperando paciente como era Jesus, que ele respondesse tudo direitinho.
Ela se aproximou só um pouco, curiosa, para espiar o cartão. Olhou pra ele. Voltou pro cartão. Repetiu isso umas cinco vezes, como se estivesse decidindo se confiava ou não naquela história. POr fim, só se ajeitou e deu uns tapinhas imaginários na própria roupa, tirando a poeira invisível.
— Se eu te denunciar pro Ministério Público por perseguição, será que você seria o promotor do caso? — perguntou, visualizando toda a cena no tribunal, encarando ele se defendendo. — Que injustiça! Vou perder mesmo sem ter chance de me defender. — Ela suspirou fundo. — É bom mesmo que você não seja um maluco qualquer, porque eu não tô com grana pra advogado… e sinceramente, zero disposição pra passar meus dias numa cela.
Ela acertou, sim. Acertou até demais. Hocheol foi se encolhendo devagar, com as mãos à frente do corpo, a expressão dolorida. Entendia a reação dela, não podia julgá-la por se defender, mas Hocheol não queria ficar estéril naquele parque. Ergueu a mão aberta na direção dela, pedindo que a jovem esperasse enquanto ele se recuperava do impacto do chute em suas bolas. ━ Eu não estava te seguindo com maldade e não vou me aproximar. ━ Falou com um tom ainda dolorido, erguendo o tronco e ajeitando o corpo com um longo suspiro.
━ Eu sou Jeon Hocheol, tenho trinta e três anos, moro em Jinjuseong. Não posso te passar meu número de registro, mas posso te mostrar meu cartão. ━ Suspirou, pegando a própria carteira. Devagar, para evitar que a outra se assustasse e lhe atacasse novamente. ━ Aqui. ━ Estendeu o cartão na direção dela. ━ Sou promotor público.
— Claro que precisa subir! Ou você acha que lá de cima, quase no céu, ele vai me ouvir daqui de baixo? — Revirou os olhos.
Kyungmi estava a um passo de começar um monólogo cheio de argumentos extremamente válidos para convencer o homem à sua frente, mas optou por apertar os lábios e encará-lo com os olhos estreitos, como quem julga em silêncio e com muita intensidade. Ela queria muito rebater. Queria bater no peito dele e soltar um indignado: "E aí, cara, tá tirando com a minha cara? Por que eu teria que pedir? Eu não peço nada pra ninguém!" …Mas ela pedia. Pedia muito. Pedia até desconto em cupom que já tinha vencido. Então, só suspirou e fez uma micro carinha de coitadinha por dentro.
Mas, ahá! Ele ia ajudá-la. Ela já estava prestes a fazer uma dancinha da vitória improvisada, quando, do nada, sentiu os pés saindo do chão e soltou um gritinho engasgado de susto. Mas o quê?! O homem simplesmente a pegou no colo como se ela fosse um saco de arroz no meio do caminho e estava subindo a escadinha com a maior naturalidade do mundo, como se estivesse entregando esse mesmo saco de arroz no palco.
— Ya! Você que vai morrer! Meu deus, eu vou morrer. A gente vai morrer! — falou, dando tapas no braço e nas costas dele, fazendo uma careta de puro desgosto. — Você não gosta de perder, né? Confessa!
Haesoo ficou parado, olhando para a mulher dar toda a sua explicação do porquê ela não podia ir pedir uma música para o DJ. Vendo todo o jeito espalhafatoso dela e a forma como ela falava, ele se perguntava se esse era o jeito normal dela ou se ela estava assim por ter bebido. Tinha ficado realmente curioso sobre isso.
Soltou uma risadinha quando ela falou dos degraus e mostrou seu sapato novamente, ainda mais com o exagero dizendo que poderia morrer se pisasse lá.
— Mas eu nem sabia que tinha que subir escadas pra pedir uma música... — falou tentando se defender do jeito que ela tinha falado, como se ele fosse burro ou algo assim. — Mas olha... eu ainda acho que você quem tem que pedir! — Olhou para ela, travando no lugar e não deixando com que ela o empurrasse mais para a escada.
— Eu vou te ajudar..., mas se você quer uma música, então você que tem que pedir por ela — declarou, colocando um ponto final no assunto e, sem esperar muito, se aproximou dela e a pegou no colo, começando a subir as escadas com ela nos braços. — Agora você não vai morrer.
Ao perceber a indignação na voz do homem, Kyungmi automaticamente fez uma carinha de coitadinha — reflexo imediato ao tom de reprovação. Ela nunca soube lidar bem com um "não", e isso sempre a deixava meio cabisbaixa. Porém, sua forma de reagir era, quase sempre, a pior possível: atacando.
— Me desculpe, senhor elegante… Mas, tecnicamente, você me deve um favor —falou com um suspiro dramático, fazendo um gesto exageraddo na direção da roupa dele.— Estava quase me cegando com esse brilho todo.
Não que a roupa fosse feia — na verdade, o homem estava incrivelmente bonito —, e Kyungmi sentia muito por ter derrubado a bebida nele. Mas, só pelo jeito ríspido com que ele a tratou, sua vontade de ser gentil evaporou.
Ela cruzou os braços e olhou para o lado, indignada. Sabia que a culpa tinha sido sua, mas o orgulho, ah, o orgulho, era maior do que a vontade de se encolher e pedir desculpas direito.
— Suas irmãs têm um gosto péssimo — resmungou baixinho, fazendo um leve beicinho. — Eu teria feito escolhas muito melhores. Inclusive, se quiser, posso te ajudar da próxima vez. É o mínimo que posso fazer depois de… arruinar sua noite.
Ela sugeriu com um gesto, tentando se fazer ouvir por cima da música alta. E mesmo contrariada, ela esticou a mão e pegou o braço dele, puxando-o de forma sutil, mas decidida, em direção ao DJ, como quem se recusa a deixar uma cena sem um desfecho digno.
— Você não vai mesmo me ajudar? — perguntou com a voz baixa, como se estivesse prestes a derramar uma lágrima. — Eu já expliquei… Foi um acidente. A escadinha, o vestido, o salto fino como uma lâmina… Olha só isso — levantou levemente o pé, exibindo o salto alto, como se fosse uma prova definitiva em um tribunal.
Ergueu o rosto devagar, encarando-o com olhos grandes e cheios de expectativa enquanto batia os cílios de forma exagerada.
— Por favor...? Está tudo dando errado pra mim essa semana… até as lâmpadas da minha casa queimaram! — falou com uma dor quase cômica, como se isso fosse o ápice de uma história muito triste. — Eu só queria ouvir uma música, dançar um pouco… E agora estou aqui, sendo julgada por arruinar um terno brilhante.
Estava começando a sentir o cansaço da festa, não era muito de ficar saindo assim, era uma pessoa mais caseira, então estava pensando se ia embora para casa ou se ficava mais um pouco. Mas antes de qualquer coisa, Haesoo queria beber pelo menos um pouquinho. Não era muito de álcool, mas estava sentindo um pouco de vontade por ver todo mundo bebendo. Foi atravessar o salão para ir atrás de uma bebida, talvez um champanhe, quando foi surpreendido ao ser atingido do nada por uma bebida. Ficou completamente sem reação por alguns segundos, tentando processar o que tinha acontecido, até ter a sua atenção chamada por uma risada.
Se antes Haesoo estava sem reação, agora vendo a mulher rir da situação que ela mesma causou e ainda colocando a culpa em si, piorava tudo mais ainda. Balançou a cabeça negativamente e resolveu que o melhor era não dar corda. Tentou fazer alguma coisa com a parte da sua roupa que estava molhada, mas nada iria adiantar, teria que colocar para lavar quando chegasse em casa e rezar para que não ficasse uma mancha. Mas novamente teve a sua atenção chamada pela mulher o pedindo um favor, o que fez com que a achasse muito abusada.
— Eu? — Apontou para si mesmo, com uma pontada de indignação na voz. — Quem devia fazer um favor aqui era você para mim. Você que fez eu ficar com a roupa toda suja assim e ainda quer me pedir para fazer algo para você? — Levantou uma sobrancelha para ela, desacreditado. Ela estava bêbada? — Você estragou a camisa que as minhas irmãs escolheram pra mim... — resmungou, tentando não deixar com que isso o afetasse muito.